Eterno
O que se faz depois de abandonar o lugar mais tranquilo do mundo? As pedras da igreja. Toda a calma das lápides. Corre pela cidade sem ruas asfaltadas, sem luz em longos trechos. Uma cachoeira sem água, a serra que foi secando ao longo do tempo. Engenhos. Canaviais. Meu vô sentado na calçada, cadeiras de balanço esperando companhia. Sempre chegam.
Portas abertas. Casas coloridas, sem muros. Chega a ser fascinante só observar. Feira aos domingos. Véspera de natal. Festa no clube. Missa lotada na igreja da sé. Um mundo. Daqueles dificeis de se ver. As telhas antigas. Retratos pintados. No quintal, o jantar. Vento forte, enche os olhos de poeira. Chega a chorar.
Chega perto. Como se todos o conhecessem e conhecem. Pedem benção. A vista gasta mal reconhece. Assim vive. Tão pleno e lúcido. Dias iguais. Um bingo de fim de ano. O sino de cinco em cinco minutos anunciando horários, que todos seguem.
Anoitece, como se cada dia fosse o último. Diz adeus. E sinto saber que nem tudo é eterno. Talvez ali seja. Dentro daqueles limites. Que não precisam de muros. Em que ainda sorriem e desejam bom dia uns pros outros. Onde o dia realmente começa com o cantar do galo.
Quando começa o dia? Talvez às duas da manhã, quando se dá conta que tem algumas estrelas e casas além da janela do ônibus. Sozinhas. Existindo a beira da estrada. Nascendo. Entre um sono e outro, uma cidade e outra.