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Porta Giratória
Quem é que nunca se enrolou com uma porta giratória de banco? Muito comum a gente ir toda confiante e de repente ser barrada naquela travada básica: “Alto lá, você é suspeita!”. Meio constrangedor, mas não tem jeito, o jeito é voltar.
A primeira vez que uma porta travou comigo eu portava uma imensa bolsa no ombro. Normalmente não uso bolsas grandes, mas naquele dia era a bolsa de trabalho, e ali dentro era transportado um arsenal à beira do inacreditável.
Aquele era meu primeiro contato com a temida porta giratória, pioneirismo de um banco que instalara a novidade na cidade. Em busca de um extrato adentrei a agência e no meio da travessia, o estalinho. O guarda veio em meu socorro e me orientou a olhar a bolsa “Deve ter qualquer coisa de metal, aí!”. Tinha mesmo. Depois de depositar na caixinha indicada minha antiga tesoura de cortar papel, rumei outra vez para a porta.
Clec! Outro estalinho. O guarda retornou. Desta vez, um grampeador, que seguiu o mesmo destino da tesoura. Olhos atentos, uma plateia silenciosa seguia meus movimentos, mas não me deixei intimidar: voltei para a porta, tinha certeza que agora ia. Não fui. Outro clec não deixou. Meu guardião, o guarda, veio em socorro “Tem mais coisa na bolsa”. Desta vez, um porta-moedas foi o culpado e por isso o condenei também ao cubículo onde jaziam a tesoura e o grampeador.
Confesso, já estava íntima dos clecs, por isso nem liguei quando, impedida de seguir em frente, a conselho do guardinha, dei de cara com mais um embaraço: as chaves da casa. Reunidas, naquele momento, me pareceram pesar, no mínimo, um quilo, e o chaveiro inteiro foi direto também para o compartimento dos barrados...
Seguida de perto pelos curiosos, tive a impressão de que minha vida se debulhava a cada novo episódio... Fazer o quê? Tudo por um extrato, ora! Mas quem disse que tinha acabado? Nem pensar. Na caixinha de acrílico ainda foram depositados um espelhinho, uma corrente... E a sombrinha! Sim, porque nunca ninguém me verá sem minha inseparável sombrinha, companheira fiel nas horas de sol, de chuva e até das ventanias...
Àquelas alturas experimentei a estranha leveza de minha bolsa e só então vi o quanto minha carga andava pesada. E se naquele tempo o celular já fosse tão popular certamente o legado da caixinha teria um companheiro a mais. Por fim, livre de tanto peso, levemente atravessei a barreira blindada rumo aos balcões tão almejados... Ufa!
Pois bem, ontem, numa agência de banco, tive a chance de relembrar aquele dia glorioso. Tendo que ir ao guichê, me vi numa fila imensa para retirada de senha. À minha frente um senhor franzino, com um jeitinho meio tímido, depois de me sondar com os olhos, se dirigiu a mim, me mostrando o papel que tinha nas mãos:
— Com esse papel eu passo na porta? É que tem isso aqui, olha...
O “isso aqui” era um minúsculo grampo que prendia duas páginas de exames médicos.
Quem é que nunca se enrolou com uma porta giratória de banco? Muito comum a gente ir toda confiante e de repente ser barrada naquela travada básica: “Alto lá, você é suspeita!”. Meio constrangedor, mas não tem jeito, o jeito é voltar.
A primeira vez que uma porta travou comigo eu portava uma imensa bolsa no ombro. Normalmente não uso bolsas grandes, mas naquele dia era a bolsa de trabalho, e ali dentro era transportado um arsenal à beira do inacreditável.
Aquele era meu primeiro contato com a temida porta giratória, pioneirismo de um banco que instalara a novidade na cidade. Em busca de um extrato adentrei a agência e no meio da travessia, o estalinho. O guarda veio em meu socorro e me orientou a olhar a bolsa “Deve ter qualquer coisa de metal, aí!”. Tinha mesmo. Depois de depositar na caixinha indicada minha antiga tesoura de cortar papel, rumei outra vez para a porta.
Clec! Outro estalinho. O guarda retornou. Desta vez, um grampeador, que seguiu o mesmo destino da tesoura. Olhos atentos, uma plateia silenciosa seguia meus movimentos, mas não me deixei intimidar: voltei para a porta, tinha certeza que agora ia. Não fui. Outro clec não deixou. Meu guardião, o guarda, veio em socorro “Tem mais coisa na bolsa”. Desta vez, um porta-moedas foi o culpado e por isso o condenei também ao cubículo onde jaziam a tesoura e o grampeador.
Confesso, já estava íntima dos clecs, por isso nem liguei quando, impedida de seguir em frente, a conselho do guardinha, dei de cara com mais um embaraço: as chaves da casa. Reunidas, naquele momento, me pareceram pesar, no mínimo, um quilo, e o chaveiro inteiro foi direto também para o compartimento dos barrados...
Seguida de perto pelos curiosos, tive a impressão de que minha vida se debulhava a cada novo episódio... Fazer o quê? Tudo por um extrato, ora! Mas quem disse que tinha acabado? Nem pensar. Na caixinha de acrílico ainda foram depositados um espelhinho, uma corrente... E a sombrinha! Sim, porque nunca ninguém me verá sem minha inseparável sombrinha, companheira fiel nas horas de sol, de chuva e até das ventanias...
Àquelas alturas experimentei a estranha leveza de minha bolsa e só então vi o quanto minha carga andava pesada. E se naquele tempo o celular já fosse tão popular certamente o legado da caixinha teria um companheiro a mais. Por fim, livre de tanto peso, levemente atravessei a barreira blindada rumo aos balcões tão almejados... Ufa!
Pois bem, ontem, numa agência de banco, tive a chance de relembrar aquele dia glorioso. Tendo que ir ao guichê, me vi numa fila imensa para retirada de senha. À minha frente um senhor franzino, com um jeitinho meio tímido, depois de me sondar com os olhos, se dirigiu a mim, me mostrando o papel que tinha nas mãos:
— Com esse papel eu passo na porta? É que tem isso aqui, olha...
O “isso aqui” era um minúsculo grampo que prendia duas páginas de exames médicos.
Meio ressabiado ele ouviu o que eu disse, mas não se convenceu totalmente da inocência do “grampinho”: seguiu para a temida porta, o papel à altura do peito, à guisa de escudo, como se temesse qualquer reação (provavelmente um clec!).
Já do lado de dentro, através do vidro, sinalizou com o dedo polegar voltado para cima, exibindo um sorriso que traduzia um vitorioso “Consegui!”. E dá pra estranhar isso? De jeito nenhum! Minha experiência com a giratória não me deixa esquecer que chegar do outro lado, às vezes, é mesmo um ato de heroísmo...
Já do lado de dentro, através do vidro, sinalizou com o dedo polegar voltado para cima, exibindo um sorriso que traduzia um vitorioso “Consegui!”. E dá pra estranhar isso? De jeito nenhum! Minha experiência com a giratória não me deixa esquecer que chegar do outro lado, às vezes, é mesmo um ato de heroísmo...