Festa da cafeicultura
 
Luiz Carlos Pais
 
Os conflitos da Segunda Guerra Mundial estavam ainda no início, nos meados de 1940, quando um jornal do Rio de Janeiro publicou uma reportagem sobre a cafeicultura de São Sebastião do Paraíso. O tema dessa cobertura jornalística foi a realização de uma animada festa chamada Noite do Café. O município do sudoeste mineiro era um dos maiores produtores de café do Estado, reconhecido pela ampla extensão de suas lavouras e pela qualidade de sua produção com grande  aceitação no mercado mundial. O jornal registrou que todas as qualidades do café produzido nas lavousas paraisenses tinham sido comprovadas na grande exposição nacional do Café de 1927, realizada em São Paulo.
 
Mesmo na eminência de ocorrer a crise mundial de 1929, que abalou o capitalismo da primeira metade do século XX, com a falência de bolsas de valores europeias e americanas, a economia cafeeira regional ainda resistia pela sua competência e qualidade, mostrando sinais de perseverança. Nos anos seguintes, a cidade foi contemplada com a instalação de um grande armazém regulador de estoque de café. O órgão era mantido pelo governo para controlar a produção, cobrar os impostos e aplicar as políticas públicas de regulação do mercado. Na mesma época foi instalada também uma sala ambiente para degustação técnica do café armazenado.
 
Foi nesse quadro de crise que a Associação dos Empregados do Comércio de São Sebatião do Paraíso organizou uma grande festa regional, a Noite do Café, com o objetivo de estimular os produtores da região a investir mais recursos na produção da preciosa rubiácea que tanta riqueza tinha trazido para a cidade, desde as últimas décadas do século XIX. Uma cuidadosa programação foi organizada para realizar o evento. A abertura do evento foi declarada pelo presidente da referida Associação, seguida por um discurso do orador oficial da mesma entidade, o jornalista Roberto Scarano, e por uma conferência proferida pelo professor e escritor Antonio Roque Martins, que faleceu ainda jovem, em 31 de outubro de 1940, portanto, três meses depois da realização do mencionado evento.
 
Na continuidade da programação, foi inaugurado um retrato do presidente Getúlio Vargas, afixado no escritório do Armazém. Em seguida, procedeu-se a cerimônia de coroação de uma linda jovem paraisense, que havia sido eleita rainha do café no Estado de Minas . Houve mais discursos proferidos por autoridades, que prestaram homenagem ao político paraisense Noraldino Lima, bem como ao governador do estado, Benedito Valadares, fiel escudeiro do governo Vargas, nos anos da ditadura. Teve início a parte mais saborosa da noite com a oferta de uma farta mesa de quitandas, acompanhada por generosas xícaras de café, servido na sala ambiente de degustação. A festa encerrou-se com uma animada noite dançante que foi até altas horas. [A Noite. Rio de Janeiro, 18 de Julho de 1940]
 
Para finalizar, diante das atuais dificuldades enfrentadas por parte dos cafeicultores da região, somos levados a uma pequena reflexão. Não há como ficar imune aos momentos de crise com que a vida pontua certos acontecimentos marcantes de uma existência. Mas a própria crise traz algum ensinamento para quem consegue dar mais alguns passos de resistência e superação. Finalmente, cumpre observar que o evento descrito nesta crônica ilustra um momento de diversificação e desafios da economia regional, buscando conquistar bases gerais mais amplas para financiar o comércio e a indústria, além da riqueza proporcionada pelas fazendas cafeeiras.