A saudade
A saudade é um sentimento tão estranho que a gente custa à entender. Nunca sabemos se é bom ou ruim. Às vezes você sente saudade de algo que foi bom e isso te dá um aperto no peito. Outras vezes, você se pega sentindo saudade de algo e se sente feliz. Isso mesmo, feliz.
Por mais triste que seja, a saudade só vem te fazer suspirar, por um tempo em que você era feliz. Um tempo bom. Isso nos alegra. Mas é difícil saber que se era feliz, muitas vezes, custamos a perceber.
Há alguns dias, revi um amigo que, há muito tempo, não via. Vinicius, que amargamente, levava o apelido cruel de baleia. Eu nunca o vi assim. Para mim era Vini, só isso. Tenho saudades do Vini.
Vinicius era um menino gordinho, porém alto, que, mesmo parecendo grande, não conseguia fugir das piadas. Até porque naquela época os meninos andavam sempre juntos. Eram cruéis, aqueles meninos. Disso eu não sinto nem um pouco de saudade.
Mas o Vini e eu andávamos, ou melhor, fugíamos juntos na hora do intervalo, e íamos conversar com o faxineiro falastrão Rosicley. Era muito divertido ficar ouvindo Rosicley contar suas histórias, diga-se de passagem, de veracidade duvidosa, e que nos fazia matar tempo, até que o sinal tocasse novamente e pudéssemos voltar a estudar. Aliás, saudades do Rosicley.
E veja bem, sinto saudades de algo que foi bom, mas ao mesmo tempo, ruim. Porém, de vez em quando, me vem uma pergunta, um tanto intrigante: O que teria acontecido se tudo tivesse sido diferente? E se não tivessem meninos ruins, Vinicius, Rosicley, nada disso? Talvez, quem sabe, eu me tornasse um menino mal? E sendo assim, alguém tomaria meu lugar e eu e o Vini nos tornaríamos o pesadelo de outros. Mas isso tudo não aconteceu, e eu me tornei o que sou.
E creio que isso ficou claro em mim. Eu gosto do que sou, porque sou a exata consequência de tudo que passei. Aprendi a respeitar, a pedir desculpas, a não ferir e machucar alguém, porque necessariamente, muitas vezes isso me faltou.
E ao rever o Vini, percebi que ele também se tornou um bom homem. Acho que é o preço para se tornar alguém digno, viver o extremo, ou passar bem perto disso.
Então se hoje você acha que vive o inferno, resista. Talvez um dia você se torne uma pessoa cheia de ideias e um mundo à explorar. Mais do que isso, alguém que você irá se orgulhar. Ainda haverá outros meninos maus por aí, para você cruzar pelo caminho. Mas você saberá exatamente como lidar com eles.