FELIZ ANO VELHO

Perguntam como será o ano no Brasil. Crise política e econômica, Zika, CPMF, estiagem, desemprego, redução do crédito, violência. Conversam enquanto, sozinha, tomo café em pé numa padaria lotada. Não pude deixar de ouvir a desesperança de cinco ou seis sentados e apertados numa minúscula mesa redonda discutindo os rumos do país. Isso após dois dias do encerramento da nossa maior festa popular, o carnaval.

Passada a folia do feriado, o ano efetivamente começou, para muitos, na Quarta-feira de Cinzas, com menos glamour, é claro. Hora de enfrentar a realidade e sambar de verdade, diz um dos moços da mesa. De esquecer a ociosidade e a malemolência do verão e colocar o Brasil para funcionar. Papo de quem o ano começou atrasado e terá que correr um pouco mais para alcançar quem escolheu arregaçar as mangas e se planejar mais cedo.

Outro sujeito – o menos falante do grupo – lembra que a cultura de que a vida só pode ser resolvida após o meio dia e que ninguém resolve mais nada depois do expediente, é um atraso na vida da gente. Concordei em pensamento. Nem jeitinho brasileiro resolve com aquele que cumpre rigorosamente a carga horária de trabalho. É voltar no outro dia e pronto. Até no comércio, quem diria.

O brasileiro se acostumou a isso. Tem jeito? Lançam nova pergunta a mesa. Tem, quase digo em voz alta: pensando e agindo coletivamente. Um grande desafio para 2016, que também é ano de olimpíadas e eleições, é acreditar e fazer acontecer um novo país de vitórias, de medalhas, justiça e oportunidades iguais. Os atletas não descansaram no verão. Da mesma forma os futuros candidatos a cargos públicos. Todos cuidando de suas metas, planejando resultados.

Um país não pode parar cinco, seis dias ou um verão inteiro simplesmente porque o consumo não para. Para garantir o pãozinho, o leite, o arroz e feijão, os medicamentos nas prateleiras, a gasolina na bomba, a limpeza urbana, a água nas torneiras, a informação no rádio, e tudo mais de essencial e que não pode parar, muita gente manteve a rotina de trabalho. Resumindo: a vida no Brasil será cara como foi ano passado e para manter o essencial a ordem é trabalhar.

Termino o café, pago a conta e desejo um feliz ano novo para os moços da mesa ao lado, para quem o ano começou depois do verão e da folia de carnaval. E para nós um feliz ano velho, se possível, com algumas folgas no meio.

* Publicada na Revista Lugar de Notícias, edição de fevereiro/2016