Cadê meus cem reais?

Dinheiro é coisa séria, principalmente para professor, cujo salário é milimetricamente cronometrado para passar o mês. Envelopinhos para todas as despesas: as contas de água, luz, telefone,açougue, quitanda, mercado, escola, passe, etc. Imagine cem reais a menos no orçamento! Jesus! Não quero nem pensar. Pois é. Não é que eu quase perdi cem reais, e como desgraça pouca é bobagem, perdi também o juízo e o senso matemático. Motivo de sobra para as minhas amigas resenharem o dia inteiro: Lusinete, Margarete e Thiara. Esta última tem um talento incomparável para florear a realidade. Já disse para ela: “Escreva crônicas porque eu curto e comento.” “Valorize seu talento.”

Tudo começou assim: saí de casa com 260,00 na bolsa. Fui direto para provedor (de péssima, baixa qualidade, mas é a que temos) para pagar a dita net. A atendente disse não ter troco para cem. Imediatamente lembrei que tinha 60,00 na outra parte da bolsa. Ela devolveu o 100,00 e eu lhe dei os 60,00. Fui a clinica fazer a revisão e lógico, revisão não paga. Matematicamente se paguei 60,00 era para restar 200,00. Oba! 200,00 na bolsa é dinheiro, uma vez que a data do salário pelas nossas contas, estava longe, muito longe.

Na hora de pagar a conta para o almoço, restava 150,00, mas o 50,00 de onde vinham? Minha mente só conseguia se concentrar nas duas notas azulzinhas, juntinhas, unidas, coladinhas até o momento sem nenhuma intenção de separação. Elas estavam tão bem, lindas coloridas, tão bem na minha bolsa em tom azul...Assim surge o desespero:

___Gente, perdi cem reais. Todas preocupadas. Siomara, Maite, Teoflândia, Lusinete.

___Calma! Abre essa bolsa, Luzineide. Tire tudo de dentro. Orientou, Teo.

___Talvez esteja dobradinha na bolsa. Concordou Lusinete.

___A moça não deu o troco. Volta lá. Aconselhou Siomara.

___Meu Deus que azar, Compadeceu-se Maite.

___Ê...Já era Luzineide. Mas tomara que a pessoa que encontrou seja alguém que precisa,que esteja em um grande sufocao. Quem sabe um remédio para o filho doente, uma conta para pagar... A vida é assim. Já foi . Concluiu Lusinete.

Na volta para o trabalho, entre um comentário e outro de solidariedade, Siomara lembrou.

___Luzineide, pensei ter perdido “um dinheiro “ esta semana, mas depois eu fiquei meditando o que paguei e onde eu tinha pago... Aí fui lembrando das contas pagas, somei e deu tudo certo.

Foi aí que deu um estalo em minha cabeça.

___Gente!! Eu lembrei, paguei o rapaz da perfumaria. Eu dei 100,00 e ele me voltou 50,00.

Ah, Senhor !!Eu deveria ter ficado de boca fechada...Foi resenha para dois dias inteiros.

Thiara fez um “auê” na sala pedagógica. Eu ri tanto da narrativa de Thiara, que a boca deu câimbra e estomago doeu.

___Colegas, Luzineide ficou branca, mas tão branca que algodão perdia. Ficou fazendo as contas, de quando os 100,00 dariam para comprar frutas, verduras, carne, etc. Suou frio, coitada. Ela sacudia o braço de Lusinete desesperadamente e gritava:” Lusinete, perdi 100,00 reais.” Tudo, tudo amiga, milimetricamente cronometrado este mês.” “ Socorro!”Passava dois minutos e Luzineide tornava a lamentar:”Ai meus 100,00.”

E assim estou sofrendo bulling no mensagen, na sala pedagógica, mas pense num bulling divertido, e saudável. Agora só espero convencer Thiara a por no papel este talento narrativo descritivo da miséria e garfes alheias. Detalhe: ela contribuiu na escrita deste texto.

Luz Ribeiro, 26 de janeiro de 2015

Luz Ribeiro
Enviado por Luz Ribeiro em 01/03/2016
Reeditado em 01/03/2016
Código do texto: T5560304
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