Achismos
Andei espalhando por cima da cama as cinzas que sobraram do que um dia foi amor. Andei dedilhando no violão acordes melancólicos da canção que costumava trazer paz. Andei ingerindo pílulas de esquecimento tardio.
Remexendo nas gavetas empoeiradas encontrei aquela carta de despedida. A frase "eu te amo" jazia à um canto e eu quase pude escutar tua voz. Ouvi silêncio. Senti abraços e cheiros. Vi olhares. Uma enxurrada enlameada por memórias.
Nestes dias de saudade morro é verbo e nada alivia. Aquele marcador de páginas marca o passado. Aquele origami de rosa, a brevitude dos momentos bons. O pássaro brilhante, o colibri ausente. E eu... Eu só marco o papel com essa melancolia palpável.
Cheguei a pensar em estampar tua foto em cartazes de procura-se e espalhar por aí. Quem encontrar, diga que ainda espero-te aqui em alguma fração de amanhã... Chegará?