A Opressão da Bobagem Generalizada
Hoje, sexta-feira, bateu uma vontade louca de tomar uma cerveja trincando de gelada. Durante toda a semana me envolvi com discussões politicas em alta voltagem. Até pensei em me aconselhar com Arthur Schopenhauer ou Nietzsche para aprender um pouco da filosofia do nada. Contudo, só um gole de cerveja com gosto de mel seria capaz de liberar o meu fôlego vital de liberdade oprimido por um turbilhão de palavras às quais arrotam democracia, porém muitas vezes não passam de uma ditadura disfarçada em telas de tv ou folhas de jornais.
As massas plugadas teriam resolvido estragar o bolo do autoritarismo das monarquias e encolher o fermento da culinária militar que por muitos tempo calou a multidão. Agora a internet é a grande panela da democracia; nela tudo cabe tudo cozinha, tudo vira sopa, tudo azeda, tudo adoça, tudo cresce... O povão abandonou a condição de massa e virou a Estátua Viva da Liberdade ou do Cristo Redentor; virou candeeiro colocado no ponto mais alto do século XXI: a WEB. Assim como os gregos consultavam o Oráculo de Delfos para fazer questões aos deuses, hoje se consulta o Oráculo Google capaz de responder tudo para todos. São milhares de semideuses 24 horas plugados buscando sanar todas as dúvidas.
O problema é que hoje estou tonto diante da excessiva verborreia política sem fim. Só um gole de cerveja me fará senti o sabor da vida nesta noite de sexta saturada por manchetes de jornais sobre crise econômica; os jornais bonzinhos tentam nos induzir que o PT é a besta que está solta no Brasil desde 2002 e a personificação dessa besta que para os anticatólicos seria o papa, para os antipetista de plantão é Lula. Nos fazem crer que o sindicalista e metalúrgico nordestino é satan. Se não me restasse ao menos uma fagulha de sensatez e inteligência já teriam me enfiado na cabeça essa falsa verdade. Mas por hoje nada de filósofos difíceis, prefiro Dionísio, o deus do vinho, capaz de expelir minhas intoxicações politicídas; hoje prefiro o sabor dos trigais e a textura da cevada.
De um lado um grupo quer a todo custo satanizar o PT, esmagar Dilma, como se ela fosse o anjo do inferno. Pregam claramente a derrubada do PT; até parece que é mais importante derrubar o PT que resolver os problemas do país. No congresso uma legião de anjos do bem seguem, em sua maioria, preocupados em liquidar o PT e se elegerem nas próximas eleições. Na tribuna queimam Lula e o governo com palavras nojentas, mas com uma canetada aprovam as terceirizações e a entrega do pré-sal para ser explorado por empresas privadas. Para esses defensores da “nova política”, “da mudança”, o PT é sinônimo de corrupção, maldade, roubalheira e tudo de ruim que já existiu na politica. Esses defensores querem fazer como Pilatos: matar Jesus e soltar Barrabás. Ou seja, condenar Dilma e absorver os espúrios patrocinadores da política suja. Como diria o educador Leandro Karnal se a corrupção fosse coisa de um só partido seria fácil resolver, mas alguém precisa dizer ao juiz Sérgio Moro que no PSDB também tem corruptos.
Tudo isso é uma grande tentativa de generalizar a bobagem e oprimir a liberdade de escolhas do eleitor brasileiro. O sucesso da política brasileira não dependerá de uma pessoa, de um programa social, de uma proposta de campanha, de um partido. É claro que a transformação passará por um conjunto de ações que começa com a consciência política individual. Se você não gosta de Dilma ou de Lula seja capaz de explicar e justificar seus motivos, mas não se deixe levar pela universalização dessa bobagem maniqueísta que ver o mal só de um lado. Isso é mentira. O PT cometeu corrupção e possui filiados idiotas, maldosos e manipuladores, mas os outros partidos também tem gente desse tipo; evidentemente que nem todo mundo é mau, nem todo mundo é bom.
O que quero neste texto é refletir que as obviedades generalizadas podem ser perigosas, elas representam interesses que não conhecemos. Nesse sentido, antes de embarcar em uma dessas correntes políticas chavônicas, massificantes, que aparentemente não deixam dúvidas da sua veracidade, use a própria inteligência como escudo a fim de não ser oprimido por uma bobagem.