UM SAXOFONE COMO IDENTIDADE
Havia um corredor rodeado de portas de entrada para cômodos praticamente vazios. Muitos cômodos e poucos ocupantes. Alguns nem apareciam, outros chegavam atrasados, também havia os presentes só de corpo, com a mente bem longe. No janeiro de 1996 os planos mudaram, vida muita vida fora pretendida pala o corredor. Ele nascia depois da escada. Todos os cômodos de mobília velha.
Logo na entrada era a sala onde devia trabalhar o especialista em imagens, mesmo que não precisássemos de especialistas em imagens. O especialista foi concitado ao trabalho, em outras áreas, então confidenciou-nos que não era de seu gosto nada que pudéssemos ofertar. Um dia ele não voltou, sumiu, foi dado como abandono de emprego. Nunca mais apareceu e no endereço informado fazia mais de ano que mudara-se.
Dez anos depois, na boca de uma noite qualquer, lá estava ele, soprando um saxofone num restaurante do centro comercial, destes que são chamados de shopping. A música em melancolia fazia companhia para três ou quatro casais de meia idade que consumiam alguma coisa. Depois da segunda música ele fez uma pausa para beber água, então aproximei-me chamando-o pelo nome e perguntei como ele ia. Ele bebeu alguns goles e sem olhar-me respondeu que eu estava enganado, pois aquele não era o seu nome.
Nesta semana reencontrei-o num vídeo, feliz da vida, soprando um saxofone. A música era a sua vocação e o trabalho que lhe foi dado era entediante e sem felicidade, talvez por isto ele sem muita cerimônia partiu sem deixar pistas.