Geada destrói cafezais mineiros
Luiz Carlos Pais
Luiz Carlos Pais
Esta crônica focaliza um triste episódio da história da agricultura do sudoeste mineiro, ocorrido nos meados de 1918, quando uma fortíssima geada destruiu vários cafezais no município de São Sebastião do Paraíso e no distrito de São Tomás de Aquino. Depois de quatro décadas do início do ciclo do café o sudoeste mineiro registrava sucessivos recordes na produção dos melhores grãos para exportação, em função da preferência dos mercados europeus. Na década de 1920, na praça central de São Sebastião do Paraíso foi inaugurado o Banco J. O. Resende, propriedade de um renomado político e coronel da sociedade local. Mas, infelizmente, o sucesso econômico da lavoura cafeeira também tem suas crises sazonais, como a atual falência da mais famosa cooperativa de café da região.
Retornando ao episódio ocorrido há quase um século, notícias divulgadas na imprensa nacional registraram que, em julho de 1918, uma violenta geada sem precedentes na região causou grandes estragos em lavouras de diversos municípios do sudoeste mineiro, e, principalmente, nas lavouras das duas referidas localidades. Os cafeeiros plantados nas áreas mais baixas do terreno foram totalmente destruídos. Ao que tudo indica pelos depoimentos da época, foi um fenômeno climático fora da normalidade até então conhecida pelos moradores mais antigos da região.
Além das notícias publicadas na imprensa, o triste evento ficou gravado no imaginário coletivo local, pois muitos fazendeiros foram obrigados a vender as suas propriedades para pagar dívidas, outros abandonaram a agricultura e passaram a trabalhar somente com a pecuária. Uma detalhada crônica escrita por um colaborador paraisense do jornal O Pharol, de Juiz de Fora, relatou diversos detalhes do desastre. Esse relato dizia que as águas das pequenas lagoas das baixadas ficaram totalmente congeladas, formando camada de gelo com espessura média de três centímetros. Muitos peixes morreram em consequência da queda brusca da temperatura, os animais ficaram sem o pasto para alimentar. A água do abastecimento nas casas congelou dentro dos canos metálicos, ocorrendo a ruptura de torneiras e de conexões.
Entretanto, a parte mais triste do depoimento foi o prejuízo causado nas lavouras, principalmente, dos cafezais que foram quase totalmente destruídos. Conforme relataram os moradores mais antigos, eles não tinham lembrança da ocorrência de outra geada com a mesma intensidade. Mais precisamente, essas geadas caíram em duas madrugadas consecutivas, entre os dias 24 e 26 de julho de 1918.
No então distrito de São Tomás de Aquino, conhecido pela qualidade de suas terras apropriadas para produção natural de café com menor acidez, os cafezais ficaram quase totalmente perdidos. Em algumas lavouras, até mesmo as plantas das partes mais altas foram queimadas pelos cristais de gelo. A destruição foi estimada em cerca de 80 por cento das plantações de café, e um pouco menos nas plantações de algodão e nos canaviais. A opinião geral dos fazendeiros era de que nos próximos três anos não haveria quase nenhuma produção a não ser para o consumo próprio.
Abateu um grande desânimo sobre eles e conforme foi noticiado num jornal regional, um honrado fazendeiro chegou a tentar contra sua própria vida, quando ao amanhecer constatou a destruição de vários anos de trabalho. Ao refletir sobre essa experiência vivenciada pelos fazendeiros de outrora, diante da mais intensa crise, ontem e hoje, o retorno histórico certamente pode oferecer alguma lição para que possamos superar os tantos desafios da atualidade, que também estão queimando a esperança do país.
Retornando ao episódio ocorrido há quase um século, notícias divulgadas na imprensa nacional registraram que, em julho de 1918, uma violenta geada sem precedentes na região causou grandes estragos em lavouras de diversos municípios do sudoeste mineiro, e, principalmente, nas lavouras das duas referidas localidades. Os cafeeiros plantados nas áreas mais baixas do terreno foram totalmente destruídos. Ao que tudo indica pelos depoimentos da época, foi um fenômeno climático fora da normalidade até então conhecida pelos moradores mais antigos da região.
Além das notícias publicadas na imprensa, o triste evento ficou gravado no imaginário coletivo local, pois muitos fazendeiros foram obrigados a vender as suas propriedades para pagar dívidas, outros abandonaram a agricultura e passaram a trabalhar somente com a pecuária. Uma detalhada crônica escrita por um colaborador paraisense do jornal O Pharol, de Juiz de Fora, relatou diversos detalhes do desastre. Esse relato dizia que as águas das pequenas lagoas das baixadas ficaram totalmente congeladas, formando camada de gelo com espessura média de três centímetros. Muitos peixes morreram em consequência da queda brusca da temperatura, os animais ficaram sem o pasto para alimentar. A água do abastecimento nas casas congelou dentro dos canos metálicos, ocorrendo a ruptura de torneiras e de conexões.
Entretanto, a parte mais triste do depoimento foi o prejuízo causado nas lavouras, principalmente, dos cafezais que foram quase totalmente destruídos. Conforme relataram os moradores mais antigos, eles não tinham lembrança da ocorrência de outra geada com a mesma intensidade. Mais precisamente, essas geadas caíram em duas madrugadas consecutivas, entre os dias 24 e 26 de julho de 1918.
No então distrito de São Tomás de Aquino, conhecido pela qualidade de suas terras apropriadas para produção natural de café com menor acidez, os cafezais ficaram quase totalmente perdidos. Em algumas lavouras, até mesmo as plantas das partes mais altas foram queimadas pelos cristais de gelo. A destruição foi estimada em cerca de 80 por cento das plantações de café, e um pouco menos nas plantações de algodão e nos canaviais. A opinião geral dos fazendeiros era de que nos próximos três anos não haveria quase nenhuma produção a não ser para o consumo próprio.
Abateu um grande desânimo sobre eles e conforme foi noticiado num jornal regional, um honrado fazendeiro chegou a tentar contra sua própria vida, quando ao amanhecer constatou a destruição de vários anos de trabalho. Ao refletir sobre essa experiência vivenciada pelos fazendeiros de outrora, diante da mais intensa crise, ontem e hoje, o retorno histórico certamente pode oferecer alguma lição para que possamos superar os tantos desafios da atualidade, que também estão queimando a esperança do país.