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Penso que minh'alma acabou por absorver a desordem e o caos como essência maestral de sua composição. Um múltiplo emaranhado de frustrações e consequências dolosas. Mar onde o vento sobra incessante e enaltece as raras calmarias.
Afoguei aquelas borboletas habitantes do meu estômago com grandes doses de bebida barata qualquer. Poluí meus pulmões com a fumaça de um cigarro vagabundo a fim de parar de exalar amores inacabados.
Quiçá a vida seja apenas uma feliz coincidência, um tropeço na calçada que algum sádico destino venha à trilhar para nós.
Minha tridimensional falta de espiritualidade não permite-me me encantar com aquelas flores dadas em declaração de amor. Não te soa trágico que tal sentimento seja demonstrado através de algo que finda-se tão facilmente? Uma morte certeira dada em celebração à promessa vaga de uma vida... Me aprecem mais as sementes. Eu prefiro ver florescer. E isso torna-se um carma num mundo onde tão poucos apreciam um jardim.
Fecho as janelas. Fecho os olhos. Tudo o que grita é o silêncio.
De repente, pássaros gorjeiam lá fora. Ouço um bater de asas prepotente e irritante e avisto ao longe um bem-te-vi que traz em seu bico uma borboleta azul. Devo deixá-la entrar?