O melhor de mim
Introibo ad altare Dei.
A felicidade ocupou-se de meu ser. Alojou-se entre lóbulos e sinapses nervosas; como um velho marujo, embarquei- me em sua nau. Estou nu sentado em convés frio. Já sinto, até mesmo, as náuseas, Poseidon tremula o meu ser, corpo que a felicidade nega como sendo o ser da eterna dor.
A alegria entorpece-me, afasta de mim meu espírito, ela foi o estupefaciente mais poderoso produzido pela Revolução Francesa. Beba a vida e, apesar de seu acre sabor, sorria. Busílis: o rico goza e o pobre mofa.
A felicidade afasta-me de onde meus pés pisam e outorga-me um fantástico eufemismo metafísico. Coisas baratas me fazem o estômago borbulhar e o coração palpitar, ecoando, em alto espasmos paralisantes, no meu cérebro, a eterna máxima social: Conforme-se.
A sociedade nos diz: " O problema são vocês inconformados, eu sou o espírito natural dos próprios seres e, assim, permaneço".
Onde está a felicidade? Na bomba de hidrogênio coreana ou no homem bomba do talibã?
Os poetas místicos são filósofos doentes, os filósofos são homens loucos. Caeiro não suportou o fado de seu tempo, queria-se árvore, rio e flor. Simplicidade de um gênio perdido. A Europa sufocou Gauguin, que foi queimar suas pestanas no sol tropical.Drummond sentiu o amargo e o regurgitou em forma de rosa. Vinícius chegou a ter pena da Bomba. Augusto nos escarrou com sangue tuberculoso.
Não tenho as palavras de 22, não tenho o whisky dos ébrios. Somente, restou-me o garção de costeleta.
O que há de melhor em mim é minha dor, que, por assim ser, me pertence e desse modo a fruo. Não desejo a ti felicidade. O mundo não a merece. A mulher amada amou meu beijo amargo.
Vi Adriana nua em traço picarescos, senti o tempo derreter sobre a mesa, dancei com as bailarinas de Degas e defequei em Duchamp, pobre arte que se torna mercadoria. Pobre literatura de 6 xelins. Pobre de mim que não traça as palavras como os quadros de Manet.
Sou isso e aquilo, sou o sim e o não, sou Mefistófelis e sou o Arcanjo Gabriel. Sou dor e mais nada.