Companhia Mogiana de Estradas de Ferro

 
Luiz Carlos Pais

 
A construção do ramal da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro entre as cidades mineiras de Guaxupé e Passos levou nove anos para ser concluída. O primeiro trecho de 15 quilômetros, a partir de Guaxupé, foi inaugurado 1912 e chegava até a cidade de Guaranésia. No ano anterior, em 1911, tinha sido inaugurada a estação de outra ferrovia, a Estrada de Ferro São Paulo e Minas, em São Sebastião do Paraíso, conectando essa cidade a São Simão, no estado de São Paulo, onde já estava funcionando a estação da Mogiana. Um avanço sem precedentes nos meios de transporte da região, resultado da expansão econômica proporcionada pela cafeicultura do sudoeste mineiro. Desse modo, em São Sebastião do Paraíso, houve  certa concorrência salutar entre as duas empresas para atender a demanda de transporte de cargas e de passageiros, existente no importante polo cafeicultor do sudoeste mineiro.

No dia 16 de Junho de 1913 foi noticiado no jornal “O Paiz”, do Rio de Janeiro, que o vereador Aprígio Serra havia viajado a Belo Horizonte para convidar o presidente do Estado, em nome da Câmara Municipal de São Sebastião do Paraíso, para assistir à inauguração da estação local da Estrada de Ferro Mogiana. Outro objetivo dessa viagem foi também obter empréstimo bancário para a construção do prédio do primeiro Grupo Escolar da cidade, cuja pedra fundamental foi lançada nem setembro do referido ano.

Conforme foi amplamente anunciado na imprensa nacional, no dia 7 de setembro de 1914, de fato, houve a grande festa de inauguração da estação da Mogiana para atender a população paraisense. Pouco a pouco, a empresa continuou o serviço de implantação dos trilhos, a partir de Paraíso, mas somente em dezembro de 1921 ocorreu a inauguração da estação da cidade de Passos. O transporte de passageiros funcionou até a década de 1970, quando foi desativado e, alguns anos depois, foi também interrompido o transporte de carga.

Relatórios da Companhia Mogiana disponível na hemeroteca da Biblioteca Nacional mostram que desde 26 de agosto de 1914, estava autorizada a circulação dos trens até São Sebastião do Paraíso. Como fazia parte do protocolo de finalização da obra, alguns meses antes da inauguração, houve uma inspeção técnica realizada por uma equipe de engenheiros. Chegou a Paraíso o trem de lastro, uma composição especial com equipamentos para avaliar a estabilidade dos trilhos e demais equipamentos para a liberação final do tráfego.

A estação da Mogiana em São Sebastião do Paraíso, nessa época da inauguração, tinha a denominação de “Estação Antônio Leôncio”. Uma homenagem ao fazendeiro Antônio Leôncio de Castro, casado com Teresa Pimenta de Pádua, e vereador da Câmara Municipal quando essa era presidida pelo médico Dr. Placidino Brotero Franklin Brigagão.

Entretanto, a referida denominação atribuída à estação da Mogiana não subsistiu por muito tempo, pois três anos depois da inauguração, consta nos documentos que a denominação da mesma era apenas “Estação de São Sebastião do Paraíso.” O provável motivo dessa mudança de nome deve-se ao fato da estação local da Estrada de Ferro São Paulo e Minas, curiosamente, também ter recebida a mesma denominação. Homenagem prestada ao abastado político que cedeu parte de suas terras para instalação das estações.


Antes da inauguração oficial da Estação da Mogiana de Paraíso o serviço de instalação dos trilhos foi inspecionado por uma comissão presidida pelo renomado engenheiro José Pereira Rebouças, cujo nome está na história da ferrovia nacional. Em outros termos, mesmo antes da inauguração oficial da Estação a população local testemunhou os trabalhos de avaliação da obra pelo chamado “trem de lastro”. Essas informações sobre a duplicidade do nome das estações da Estrada de Ferro São Paulo e Minas e da Companhia Mogiana e os testes que precederam a inauguração da nova ferrovia foram publicadas em “O Estado de S. Paulo”, de 6 de janeiro de 1914.