DO PASSADIÇO E A INCÓGNITA

(para o Humberto Luiz dos Santos, agora na net)

Olá, Bebeto, querido tinhoso das correrias de infância, do espionar as gurias, do soltar pandorga, do jogo de futebol no campinho de defronte, depois dos deveres escolares, nos fins de tarde, tudo sob os olhares do véio Monckão e Dona Teresa. Do Fanca, Vitor Hugo Huck, do João Pepé, Cedrolino, Jones, Ireno, do Pelé e o Negão Cavalo, do Miloca e outros viventes que nasceram e se extraviaram no tapete verde das margens do Arroio Pepino. Fora os que se escafederam nesse mundão de deus e outros que se bandearam pra outra margem. E lá se foi o tempo com sua carga de relatos, rusgas, flores e canções. Fica o coração pleno de lembranças e o viver perde em carne e osso a cada passo dado. O rosto marcado de sortilégios, sumiços e reencontros. Nele, algumas rugas nos tornaram mais silenciosos e nem tão ágeis. E talvez os neurônios estejam mais ricos para contemplarmos o que resta do inacreditável absurdo cibernético e seus misteriosos recantos. Agora podemos cantar, contar, confidenciar e até rançar a quilômetros, como estivéssemos em presença. Todavia, por ainda estarmos aqui, seguimos brincando com a saudade. Porém, o porvir é a incógnita como sempre foi e será. O que vale é a imaginação: tanto nesta quanto na outra. Por esta razão é que o contar e o recontar literário é a melhor maneira de continuar vivo. E de seguir aprontando no recriar de novas incógnitas...

– Do livro A BABA DAS VIVÊNCIAS, 1978/2061.

http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/5553986