Dói dedo

Dói dedo

Tatão era chamado por todos que o conheciam. Foi criado pelos meus tios Tunica e seu marido, Zé Quintino.

Eles não tinham filhos, talvez seja o motivo que adotaram o Tatão, ainda bebê. Me lembro de minha alegria vendo Tatão chegar à minha casa quando eu era criança e dando minhas mãos para ele, gritando e pulando com ele gritando: “cinema hoje”. Ele falava poucas palavras. Já moço, brincava como uma criança.

Minha tia tinha usava prender os cabelos, fazendo uma pituca. Ele desenrolava seus cabelos e dava um beijo na cabeça dela. Minha tia o tratava com muito carinho e dizia que ele era inocente. Ele nunca foi à escola, nunca aprendeu a ler. Não sabia nem ir ao banheiro sozinho.

Quando meus tios faleceram, ele ficou com minha tia Maria, que cuidou dele com carinho. Certa vez eu estava na casa dela e ela precisava sair, ela saiu de casa e fechou a porta com a taramela. Ele nem sabia abrir a porta. Achei isso estranho, mas dava para saber que ele era muito deficiente com esse ato. Ele ficou feliz dentro de casa, batendo numa lata como tambor.

A última vez que vi Tatão, minha tia Maria já tinha falecido e minhas primas cuidavam dele. Ele estava muito doente. Minha prima disse que o médico disse que ele não tinha cura. Fui vê-lo deitado na cama. Ele me mostrou o dedo, com ferimentos e disse: ” dói dedo. ”” Dói dedo” foram as últimas palavras que o escutei falar. Ele morava em Viçosa, Minas Gerais e eu em São Paulo. Alguns dias depois, recebi notícia de seu falecimento.