Minha Infancia.
Minha Infância
Hoje estou vivendo no presente, onde as lembranças do passado não se apagam, e o medo do futuro às vezes me apavora; trouxe quase nada do passado para o presente, porque não havia um baú cheio de coisas minhas, com lembranças guardadas, empoeiradas, mas que com certeza seriam ricas recordações do que vivi quando criança. Não houve infância, porque quem nasce no berço da pobreza é estigmatizado e levado a viver cercado de riquezas alheias, com o trauma de não poder lançar mão delas nem para experimentar o sabor da opulência, comendo sempre as sobras da mesa do patrão que sequer era bastante para matar a nossa fome.
Cresci correndo atrás da manada dos bois que não eram nossos, montando meu cavalinho de cabo de vassoura, onde a minha fantasia extrapolava os limites de um dia ter um pouco de tudo que nos cercava. O tempo passou, e papai que era o esteio que sustentava a família faleceu; a herança que mamãe recebeu foi os filhos e a palavra do patrão que veio nos pedir que deixasse suas terras; com a morte de papai nós tínhamos perdido o valor da mão de obra exploratória. E mamãe saiu dali sem rumo, sem destino, com três filhos pequenos em busca de quem nos pudesse amparar e nos dar abrigo.
E eu, inocentemente estava lá montando o meu cavalinho de cabo de vassoura, que docemente eu chamava de “ Cansado.” Dai fomos para a cidade, e mamãe tirava o nosso sustento lavando e passando roupa para as pessoas mais ricas da pequena cidade.
Passei minha vida carpindo de fazenda em fazenda; a enxada foi a minha caneta e nunca tive um cavalo pra chamar de “Meu”.