Vazia de mim, cheia de nada.

Não consigo escrever. Estou parada em frente a tela, olhando para o teclado tentando jorrar tudo que tem se passado dentro de mim, mas nada sai. As palavras saem sem sentido, fora de contexto, e mesmo tentando organizar, nada faz sentido. Para mim faz, afinal, é minha alma escrita. Mas para quem tentar ler, vai entender apenas que sou louca. Músicas, filmes, tudo me inspira, mas nada parece ser o bastante para me fazer derramar o coração em letras. E isso me preocupa. Sempre escrevi, mesmo que não mostre ao mundo tudo que faço, mas sempre escrevi. Como desabafo, como explosão de alegria, tudo que sinto é espirrado para as palavras. Preencho o significado das palavras com sentimentos, porém agora nada sai. Nada.

E a cada tentativa, cada mísera letra, sinto que não estou completa, que as palavras estão tortas, e vazias. Eu me reflito em palavras. As palavras estão vazias. Eu estou vazia. Não suporto mais essa sensação de falta, falta de mim, falta do mundo, falta de tudo. Meu universo de repente se apagou. Minha mente que antes voava longe, e me trazia mundos diversos e idéias mirabolantes, agora firma os pés no chão e se recusa a sequer pular. Sinto minha imaginação aprisionada, presa junto a tudo que já me preencheu, e tudo que poderia ter preenchido. Sinto o toque frio das grades que me cercam e me impedem de fugir, de correr e me encontrar.

Por fim, desisto das belas palavras, das belas poesias, dos belíssimos sentimentos que já fui capaz de expor. E me apego aos mais singelos termos, às mais simples palavras, apenas para jorrar o quão frustrada me sinto, presa ao sentimento de falta de mim. Me falta eu. Agora, conformada, não saio voando longe, decido mergulhar fundo, fundo neste abismo que me puxa e me tira a inspiração. Fundo nesta falta de mim, nesta névoa que esconde tudo que já fui capaz de expressar, e jorro tudo que está preso em minha garganta. Tudo que me faz sofrer, tudo que me provoca lágrimas, tudo que já me machucou. A falta de inspiração, na verdade é a inspiração que tranca tudo de bom que posso escrever. E agora, derramando essa desgraçada em palavras, começo a abrir caminho, tirá la do peito e a colocar em palavras. Não mais vazias. Não estou mais vazia.