Falta-nos a poesia!

Falta poesia à vida moderna, falta, sim, e muita! A fixação axiomática e a idolatria aos valores da pós-modernidade têm criado para o homem, uma vida díspar da naturalmente esperada para todos eles. Mudou-se o mundo, mas para pior. As fragilidades do cotidiano têm nos posto em cadafalso de madeira apodrecida. Ninguém escapa do furor do salve-se quem puder. É preciso mudar esse rumo e essa direção aceitos pela sociedade atual. Há melhores meios de viver-se a vida.

Vive-se para se envelhecer e, entre o nascer e o morrer, os caminhos levam o homem ao ajuntamento de valores materiais, em detrimento dos do espírito. É aí onde se percebe que falta poesia à vida cotidiana do homem moderno e, por isso, tantas mazelas ele tem colecionado. A vida passa a ser uma arena de buscas e, nós, perversos gladiadores armados até os dentes, na busca de valores materiais, que, no frigir de tudo, não leva ninguém a lugar nenhum. A violência é o cenário do desamor e do retrocesso dos valores morais. Sobrevivemos ao mal maior do fim do século: à falta de poesia nos mínimos atos do nosso dia – a – dia.

Como eu gostaria de enxergar um mundo melhor, cheio de paz e de harmonia! Mas não temos nos esforçado para tal. O dinheiro tem sido a estrada mais ambiciosamente visitada por nossos passos. Bem que poderiam ter sido outros passos, os de ontem, aquele que demos até um porto inseguro na atualidade a que chegamos, cegos, surdos e mudos. Não há entendimento, e a selva poluída dos lobos sobreviventes começa a conhecer a escuridão. Se a estrada é um descaminho, imaginem quando escura.

Cada dor particular reclama de uma outra dor alheia, coletivizada em mordida agonia. E ouve-se um clamor geral. Se entendêssemos que cada um de nós é quem faz o todo perverso que estamos vendo, certamente transformaríamos todo esse quadro indigesto das ruas, das praças, dos lares. A lente para se enxergar tudo isso é a poesia. Falta poesia ao homem, essa que é a chave magnífica de toda vida esplendorosa. O poema poderia ser usado por nós como a mensagem salvífica diária . Este passa de mão em mão, mas a poesia, essa sim, permanece viva em nossas almas como refrigério e luz de vida.

Continuamos a ver o céu, o sol, a lua dos poetas, o arco-íris, como se a natureza não quisesse misturar-se a nós, esses destruidores incansáveis. Parece existirem dois distintos mundos, um alertando o outro.

Tenho observado ultimamente um certo aumento na recepção do homem às leituras dos poemas. É um fato que os poemas da pós-modernidade têm se vestido deles próprios e se desaçucarado um pouco dos velhos poemas confissionais, profundamente líricos, onde a alma parecia cantar silenciosa emitindo luz e encanto nos versos declamados. Mas são poemas e, portanto, devem ser lidos e apreciados como tais. É uma questão de Escola literária, ainda indefinida mas que marcha.

Falta-nos a poesia no reconhecimento humano, no amor ao próximo, no calor da vida. Devemos procurar retirar de nós os excessos do lobo e conservar a poesia de nosso mundo interior e pronto. Basta isso e transformaremos o mundo cruel de hoje em um novo lugar desejado e defendido por todos os homens.

Falta-nos poesia, sim, para que possamos reascender o homem novo e a vida merecida. Só aí, então, entenderemos que a poesia é amor e vida na direção e no sentido certos.

As escolas públicas e privadas, os lares, as praças públicas deverão ser os legítimos sorvedouros da poesia universal, aquela que agrada e que transforma. Ela deve ser o nosso exercício diário de vida. Hoje, como nunca dantes, faltam-nos o espírito da vida e a poesia do encanto. A nossa dor precisa ir-se e nosso contentamento voltar a habitar os escafandros próximos da alma. Falta-nos poesia, eu sei, falta-nos!