PONTE DA INIMIZADE
Sombras do Passado
Sombras do Passado
Trabalhei por vários anos em um lugar, cuja característica principal é possuir a maior concentração de energia negativa, por metro cúbico, que tive a infelicidade de conhecer ao longo dos meus 60 anos de vida.
Nesse lugar presenciei ou soube de centenas, senão milhares de suicídios; de corpos desfigurados e crânios esfacelados sob rodas de caminhões-carretas carregados; Motos atropelando e atropeladas, fêmures e tíbias expostas; angustiosos fluídos impregnados no ar: de uns que ali amaldiçoaram a perda de tudo; de outros que morreram por infarto agudo em função da perca de tudo que possuíam.
É ali o local escolhido para todo o tipo de protesto. Pessoas raivosas, odiosas e revoltadas que, pelos mais inusitados motivos, para lá se deslocam a fim de "fechar" a ponte sobre o Rio Paraná. Causando assim, o caos à vida de milhares de pessoas que teriam, em tese, o garantido direito constitucional de "ir e vir". O barulho é ensurdecedor produzido por milhares de veículos, na maioria caindo aos pedaços e vazando combustível, que fazem uso diariamente daquela passagem internacional. Disparos de arma de fogo, em todas as direções, todos os dias, muitos destes tentando deter a carros roubados na cidade e região que por ali passam, deixando para trás pessoas assassinadas ou amarradas em algum canto. Forças Policiais digladiando-se entre si pelo domínio absoluto do "território". Jovens que, "recém saído das fraldas", maioria de primeiro emprego, armados com armas de grosso calibre, dependuradas na cintura, disputando quem se destaca no quesito "abuso de autoridade". Desvios de função sendo exercido descaradamente sem nada acontecer, sem ninguém que, com "patente superior" insurja-se em restabelecer a ordem e por cada um em seu lugar reservado por lei. Todos "mandam"; todos fiscalizam. Nada acontece!
De maneira que, não é preciso ser "sensitivo" para um passante ocasional sentir as más energias impregnadas entre o asfalto e a alta e calorenta cobertura daqueles barracões contíguos à Ponte, em ambos os lados da Fronteira. Afirmo isto porque qualquer pessoa que nada tenha comprado; nada deva à justiça fiscal ou criminal, mas, por qualquer motivo necessite atravessar a fatídica Ponte, sente-se "aliviada" em transpor rapidamente àqueles barracões. Como logrado êxito tivesse ao transpor um portal maldito.
Hoje estou aposentado, graças a Deus! Entretanto, pelo longo tempo da vida em que, por força do trabalho, passei nessa "Terra de Ninguém", ainda tenho pesadelos. Ainda ouço, nesses horripilantes sonhos, os gritos por socorro dos suicidas, conforme os ribeirinhos contavam-me ouvir durante a noite, em seus leitos, em suas casas.
Nessas sombrias e terríveis visões vejo-me chegando ao trabalho, quando avisto ao longe uma placa grande e flamejante, sob a frase, em letras garrafais: bem vindo ao inferno!