Estrada de Ferro São Paulo e Minas

Luiz Carlos Pais
 
A história das primeiras estradas de ferro no Brasil e a expansão ocorrida a partir do final do século XIX são temas estreitamente relacionados ao desenvolvimento geral do país. A criação das primeiras ferrovias resultou, de modo geral, da expansão das fronteiras agrícolas e minerais. Este é o caso da Estrada de Ferro São Paulo e Minas, com sede em São Simão, na atual região de Ribeirão Preto, SP. Seus trilhos foram estendidos até São Sebastião do Paraíso, num trajeto de 136 quilômetros, quando esse município mineiro passava por momentos áureos na cafeiculutra. A estação local foi inaugurada em 16 de maio de 1911 e, três anos depois, Paraíso passou a ser servida pela Mogiana, cuja estação foi inaugurada em 7 de setembro de 1914.

No dia da inauguração da Estação da São Paulo e Minas, por volta das seis horas da manhã, saiu de São Simão um trem especial, conduzindo autoridades convidadas para histórica viagem, pois, pela primeira vez uma composição férrea chegaria ao importante município cafeeiro do sudoeste mineiro. Os políticos da cidade organizaram um elegante banquete de cem talheres para marcar o evento, houve um animado baile e troca de presentes. Desde 1º de outubro do ano anterior, 1910, alguns trens estavam percorrendo parte do trajeto no estado de São Paulo e a estação de Guardinha, distante 18 quilômetros, tinha sido inaugurada sete meses antes. Ficou registrado que na inauguração da estação da Guardinha estiveram presentes cerca de três mil pessoas vindas de Paraíso e de outras cidades da vizinhança. Nessa ocasião, discursou o senhor Aristeu de Castro, redator do Jornal do Povo.

Além da expressiva produção de café no município e região outro fator que propiciou a implantação da São Paulo e Minas foi o projeto de exploração de minério no Morro do Ferro, então vinculado ao município de Jacuí. A empresa foi criada por iniciativa do médico e empresário Jorge Cezimbra Fairbanks, a princípio com o nome de Companhia Melhoramentos de São Simão, em 1890, para prestar serviços públicos na região de São Simão e, posteriormente, passou a atuar no transporte de café entre grandes fazendas da região. Na época, já estava funcionando a estação da Mogiana no bairro rural de Bento Quirino, próximo a São Simão. Nos anos seguintes, o criador da empresa aceitou o convite de empresários ingleses dispostos a aplicar recursos para expandir a ferrovia. Nasceu então a Estrada de Ferro São Paulo e Minas. Em 1908, os ingleses passaram a controlar a empresa que recebeu o nome de "The São Paulo and Minas Railway Company".

Para estender os trilhos até Paraíso a empresa adquiriu os direitos então detidos pelo coronel Pimenta de Pádua, com a anuência da Câmara Municipal, sob a presidência do Dr. Placidino Brigagão, que entendeu ser do interesse da cidade a possibilidade de ver finalmente a realização do sonho de melhoria nos transportes locais. Um sobrevôo à realidade daqueles anos permite compreender contexto. Naquele momento, havia quatro distritos de paz: a sede do município de São Sebastião do Paraíso, São Tomaz de Aquino, Espírito Santo de Peixotos e Espírito Santo da Pratinha. A população total do município era de 18 mil almas, e, politicamente, estava vinculado à 4ª circunscrição eleitoral de Minas, quando a cidade era sede de uma comarca de primeira entrância. Em questões eclesiásticas, o município estava vinculado à Diocese de Pouso Alegre. A cidade passou então a ser atendida pelo serviço de comunicação por telégrafo da Companhia Mogiana. Possuía linha telefônica, iluminação elétrica, água potável canalizada e estava em funcionamento o Ginásio Paraisense e a Escola Normal. Uma notícia publicada na Gazeta de Passos, de 9 de março de 1908, comentou o privilégio concedido pela Câmara Municipal de São Sebastião do Paraíso à Estrada de Ferro São Paulo e Minas, nos seguintes termos:
“Por mais que um bairrismo mal entendido queira desligar esta parte ao sul do Estado de Minas dos mercados paulistas, procurando nos planos da viação vincular-se somente ao mercado do Rio de Janeiro, como que se torna isso impossível, e, fatalmente, pela sua posição geográfica, senão todo o sul, esta nossa região há de procurar, nas estradas de ferro paulistas, a solução do problema da viação, pelas grandes vantagens que lhe resultarão com o encurtamento da distância e com a facilidade e rapidez da construção de linhas férreas que forem tributárias da rede da Mogiana. São Sebastião do Paraíso, o importante e riquíssimo município vizinho, desesperançado de ser enfim beneficiado pela linha férrea da Muzambinho deu o exemplo, e, com a iniciativa de sua municipalidade, que concedeu privilégio à empresa de viação férrea São Paulo e Minas, terá ele dentro de 18 meses inaugurada a sua estação. Essa estrada de Ferro hoje pertencente a um sindicato inglês, representado pela firma Nathan & Stuart, iniciou já os trabalhos de construção da linha que parte da Estação de Bento Quirino, ponto de conexão com a Mogiana, e atravessando riquíssima zona do vizinho estado, vem terminar em Paraíso. É um fato, pois, a estrada de ferro na vizinha cidade, que separada de Passos pela pequena distância de 9 léguas de excelentes estradas, graças à natureza dos terrenos, é a estrada que também convém para este nosso município.”

Em 1922, a Companhia Eletro Metalúrgica Brasileira, de Ribeirão Preto, adquiriu a ferrovia para transportar o minério extraído no Morro do Ferro. A empresa faliu em 1929, quando houve uma histórica greve de seus funcionários por falta de pagamento. A situação foi agravada pela grande crise econômica que o mundo capitalista passava naquele ano. A ferrovia foi então encampada pelo governo do Estado de São Paulo. Na década 30 o trecho até Paraíso permaneceu desativado, por certo tempo, mas foi reaberto em 1934, quando houve o alargamento da bitola de 60 para 100 centímetros. Na década de 1960 a empresa foi incorporada pela Companhia Mogiana.