Uiara
Segundo nosso folclore, Uiara é também Iara, uma sereia que atrai os homens com sua face linda e seu belo canto. Enfeitiçados eles adentram as águas profundas e alguns morrem afogados. Para mim Uiara foi uma das maiores decepções que já anotei na caderneta do meu insensato destino.
Começou numa daquelas esperas no portão da casa de um colega, jogávamos futsal no mesmo time e íamos a pé, naquele dia notava-se um barulho alegre vindo do interior da residência, balões estouravam e o cachorrinho latia.
Estava incomodado com a demora, mas me segurava riscando o passeio com pedrinhas de brita, desenhava personagens das revistas em quadrinhos que lia.
Até que o colega abriu o portão com um copo de suco e um pedaço de bolo, a cólera passou, já que a fome passaria com aquele gesto benevolente que era também um pedido de desculpas. Enquanto comia eis que surge o motivo das algazarras da família, uma morena jambo, um metro e setenta e oito por ai, cabelos encaracolados e muito peito, usava uma calça jeans colada denunciando uma face motivadora da sua genitália pelo ângulo em que me encontrava.
Disse oi, perguntou meu nome e onde morava, algo sem calor, mesmo assim fiquei nervoso engasgando algumas palavras, mas respondi e ela sorriu, atravessou a rua para abraçar uma vizinha.
Fiquei olhando aquela bunda e imaginando cada naco da carne pressionada sob aquele jeans, não via marca da calcinha e cheguei à conclusão que não usava. Ouvindo atrás da porta certa vez, uma amiga da minha tia dissera que não usava calcinha para não deixar marcas. Minha fantasia crescia a Cada mergulho que a vista dava naquele rebolado solto. Só desviei o foco quando meu colega apareceu chamando para o jogo.
Nesta época já havia inscrito no mundo do prazer, conhecia mulheres famosas de corpo inteiro, adorava uma que fazia novela, meu tio comprava as revistas e escondia no fundo do guarda roupas em baixo das calças dobradas, eu pegava, olhava e depois do orgasmo devolvia.
Mas depois daquele encontro com Uiara minha vida jamais voltaria à mesmice tacanha de outrora... fiquei sabendo que ela já tinha mais de trinta anos, enquanto eu fazia aniversário de quinze.
Passei a freqüentar aquela casa com as piores desculpas que se pode inventar; pedir caderno emprestado, perguntar se não havia esquecido a borracha na sala e como se plantara a primeira bananeira se ela não tem sementes.
Uiara havia desconfiado e sorria piscando para mim, aquilo me enchia de fogo, uma labareda juvenil que ansiava por se propagar para cima daquele corpo generoso, sonhava acordado, dizia seu nome no auge de um prazer solitário.
Certo dia, passei para devolver a bola que havia tomado por empréstimo, bati por varias vezes até que se abriu uma pequena fresta do portão com cara de sono Uiara fitou-me famigeradamente, estiquei a mão para entregar a bola, mas ela queria que eu entrasse, disse que estava sozinha.
Tom ofegante de propósito da sua voz diluiu minhas forças as pernas amoleceram. Bati o portão e ela andou na minha frente enrolada numa toalha aquela bunda mastigava e soltava com delicadeza, lentamente foi se livrando dela e aquilo tudo que eu sonhava mostrava-se despudoradamente, estava completamente nua.
Fiquei engessado, emudeci quando Uiara se virou e colocou as duas mãos na cabeça imitando dançarina de Axé, subindo e descendo, se abrindo e fechando. Estava ali a poucos passos de mim tudo aquilo que sonhava com base nas revistas do meu tio.
Não sei por que “cargas d’água”, mas seus pelos pubianos me lembravam Claudia Ohana, seus seios Daniele Vinits, sua bunda Sheila Mello, estas eram as mais adoradas por mim, todas em uma só,
Começaram aparecer na minha cabeça cenas de filmes pornográficos furtados também do meu tio. Seria diretor da minha própria trama, precisaria ser metódico, meticuloso e altamente profissional, imaginei aqueles homens ferozes que não se cansavam, ela submissa gritando que eu era o maior. Pensei nas posições iniciais, mudanças e até a cara que ela faria e eu também deveria fazer.
Estava pronto, esquema tático na cabeça,quando me levantei para atacá-la, lembrei-me de uma canção e cantei no pensamento aquela cacimba que mataria minha sede, daquela boca sairia à primeira saliva a se encontrar com a minha. Mas um ruído de fechadura se abrindo a fez correr desesperada para o quarto, enquanto eu sem ação me refugiei no banheiro.
A voz da mãe foi a primeira que ouvi gritando pelo seu nome, depois uma balburdia não deixou que definissem as outras, para a minha infelicidade pareciam muitas e o banheiro ficava na sala. Logo bates forte soaram na madeira seca da porta, mais outros e gritos violentos.
Só abri a fechadura quando Uiara disse hipocritamente ao agressor das batidas “É aquele colega de Fabinho, disse que estava com diarréia e pediu para usar o banheiro, tem mais de meia hora que está ai!” Quase morri de vergonha, mas abri a porta molhado de suor e sai de cabeça baixa correndo para o portão, mas não sai sem ouvir o tiro de misericórdia da própria Uiara;
“Pede sua mãe para fazer um chá de flor de mamão, se for coisa estragada que comeu melhora!” fiquei uma semana sem ir para a escola, quando voltei meu colega disse que sua irmã havia se mudado para o Rio de Janeiro, reconciliara com o ex-marido depois de ganhar um carro de presente.