COISAS INÚTEIS... (Republicação)

Cigarro é uma coisa inútil. Disso eu sei. De inútil, ele passa a "necessário" no momento em que nos viciamos. Como qualquer droga, causa dependência física e/ou psíquica. De todos os vícios talvez seja o mais difícil de deixar, porque é uma droga lícita, que pode ser usada na frente de qualquer pessoa, que não causa espanto.
Sou cria de uma geração que cresceu assistindo comerciais de cigarro. Comerciais belíssimos, com paisagens naturais que mostravam homens a cavalo, em lugares montanhosos, significando liberdade e "ar puro". Cenas de cinema que escondiam a realidade cruel que existe por detrás do vício. E quem não se lembra do maravilhoso mundo de “Marlboro”? E dos seus cowboys?
Eu andava pelos 16 anos, com vontade de parecer mulher madura, como é comum entre adolescentes. E, segundo o conceito da época, portar um cigarro entre os dedos, num local público, nos fazia parecer independentes e resolvidas. Independente até por aí. Bancávamos as "derruba padrões" em sociedade e, em casa, fumávamos escondido, com medo dos pais. Até porque dependíamos do dinheiro deles para adquirir o produto. Hollywood e Minister dominavam a moda na época. Mas, as fábricas de cigarros, visando aumentar as vendas, investiam em marketing para chamar a atenção das incautas meninas e acabavam lançando novos modismos, para atrair o sexo feminino. Foi o caso do "Charme", feito para mulheres. Era o cúmulo da feminilidade fumar Charme, porque o cigarro, até então, era quase exclusividade masculina. E as meninas, doidas para serem notadas, embarcavam nessa onda. Afinal, era uma coisa tão "inofensiva"! Que mal havia em tragar e soltar a fumaça? Ela só ia até os pulmões e voltava... Assim pensávamos nós. Santa inocência! Afinal era a época da quebra dos padrões vigentes. Viva o rock and roll! Viva a mini saia, a calça jeans desbotada, o tênis, a camiseta! Abaixo o soutien! Liberdade! Direitos iguais! E assim, sonhando com a independência, tentando parecer modernas, tragávamos e expelíamos a fumacinha "inócua" do cigarro. Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem. Assim é que tem que ser. Assim era. E assim foi. O que hoje também é, e que não sabíamos naquela época, era que o cigarro, a longo prazo, traria a tona seus malefícios.
Minha geração sofre, hoje, a dependência da nicotina, coisa extremamente difícil de abandonar. A maioria dos fumantes só pára quando surge a doença. E aí, muitas vezes, é tarde demais. Ou a pessoa leva sequelas pelo resto da vida. Ironia do destino ou não, todos os três cowboys de “Marlboro” morreram de problemas relacionados ao tabaco.
Hoje existem substâncias piores que a nicotina, porque os resultados são mais imediatos e afetam diretamente o sistema nervoso central, causando transtornos de personalidade. O cigarro parece ser dos males o menor, porque não modifica o comportamento social da pessoa.
Escrevo isso como um alerta, porque sou cria dos anos 60 e também me viciei no cigarro. Muitos da minha geração já partiram. Outros sofrem as consequências.
Hoje, as manifestações anti-tabagismo ganharam a mídia, leis foram feitas para proibir o uso em locais fechados. E a propaganda foi desvinculada nas rádios e na TV.
Assim como eu embarquei na propaganda pró-tabagismo na década de 60, desejo que a juventude atual entenda a mensagem e boicote o uso do cigarro. Tomara... Porque, se era "it" fumar nos anos 60, 70, 80, hoje as pessoas torcem o nariz para essa fumacinha incômoda e poluente. Fazendo com que o fumante se sinta "estranho no ninho" e totalmente fora de moda.
Afinal, nesse mundo globalizado, tudo são modismos...
                                             Giustina
(imagens Google)
Giustina
Enviado por Giustina em 21/02/2016
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