Sete justificativas para minha preguiça

Injustiça dizer que estou com preguiça. Não é bem isso. Trata-se provavelmente de um caso de cansaço mental proveniente de uso exagerado da massa cinzenta no topo do meu corpo, e também do resto que está embaixo, correndo para lá e para cá a semana toda para dar conta da tal vida que a gente não sabe bem por que é que está vivendo. De qualquer forma, fui desafiada a encontrar sete justificativas para ela, a tal preguiça, e acabei achando pouco. Só sete? vamos lá:

1. Hoje é sexta feira. Desde a segunda acordo cedo e durmo tarde, correndo atrás de algo que infelizmente ainda não defini muito bem, e talvez por falta de tal definição fique realmente difícil alcançar... então, acho que chega por hoje, tenho preguiça de andar, que dirá correr!

2. Na minha profissão, devo ser criativa full time. Devo ter soluções prontas na ponta do lápis. Devo conseguir colocar muita coisa em pouco espaço. Devo definir materiais e cores num piscar de olhos. Ah, cansei, estou com preguiça de pensar, que dirá resolver!

3. No final, a vida é só um arrastar de horas que se sucedem, estejamos ou não ativos e ligados na corrente elétrica da vida. Assim, tanto faz correr ou não correr, afundar-se em atividades ou apenas ficar cismando na beira da calçada, pitando um cigarrinho de palha imaginário. Então, decidi que hoje virarei Jeca Tatu por algum tempo.

4. Já ouviram falar de fadiga metálica? Então. Dobre constantemente um arame e em pouco tempo ele se quebrará pelo esforço. Como ainda tenho, ou gostaria de ter, alguns anos de integridade física, prefiro parar preguiçosamente antes da cisão.

5. Não fazer nada é um excelente exercício mental. Pode-se ficar imaginando as milhões de coisas que se poderia estar efetivamente fazendo... o que excita nossa criatividade, enquanto que, se estivéssemos realmente fazendo algo, não teríamos tempo para tal exercício. Ponto para a preguiça que induz ao ócio criativo!

6. Existe coisa mais lânguida que o espreguiçar-se? Além de ser uma forma natural de alongamento, é sensual à beça. E desenvolver a sensualidade, ainda que lânguidamente, é uma das funções da preguiça. Utilíssima, por sinal.

7. Finalmente, a função econômica da preguiça: fazer nada não gera custos. Fazer nada não resulta em gastos. Fazer nada é uma forma de poupança. Enquanto estou aqui, curtindo minha preguicinha, ajudo a evitar o desperdício. Postura atualíssima e necessária.

Não sei se consegui justificar minha preguiça, mas com certeza consegui escrever sobre isso. O que, pensando bem, ocupou uma boa parte do meu tempo ocioso! Nesse caso, preciso urgentemente de uma prorrogação de prazo. E, caso o leitor considere que esta crônica está um lixo, aviso: na verdade, estava com muita preguiça de escrever...