FIQUE À VONTADE, MARCELO
Texto antigo... antigo que só...
Estava pensando no meu amor - nenhuma novidade que, descuidando, isto ocorre durante as vinte e quatro horas de segunda a domingo de janeiro a dezembro inclusive nos feriados nos dias santos até mesmo nas férias escolares - quando Marcelo entra, de repente, senta-se na única cadeira confortável que existe na sala da minha cabeça (mais de uma visita que venha ao mesmo tempo tem que sentar-se num pufe surrado de doer, ou no chão) - e Marcelo me diz que Fernando vem mais tarde, o que me deixa muito contente.
Pois é. Agora você, amor, tem companhia aqui em casa, na sala da minha cabeça - vá pro quarto, leia algum dos seus poetas preferidos... Augusto dos Anjos... Florbela Espanca... Eugênio de Andrade... me deixe aqui, um pouco sozinha, com meu amigo. Não tenha medo, o Marcelo está apaixonado por um ruivo lindo que não se parece comigo nem com você.
Bem, amigo Marcelo, a cadeira é confortável, mas, a sala está uma zona, você devia ter me avisado que vinha, não tive tempo para arrumar nada, nem para dar uma disfarçada. Não repare, por favor. Claro, você não repara jamais nessas coisas, gato.
Conte como foi a noite do seu aniversário. Imagino você lindão com a cueca e a camiseta que o Ricardo lhe deu e depois vocês dois a mil, muito juntos, muito loucos.
Sabe, neste momento, minha cabeça está mais gostosa e mais light, com você aqui dentro. Por favor, fique à vontade. Levante, afaste a escrivaninha para um canto, ignore aquela Idéia rabugenta a balançar a cabeça nos reprovando, com seus olhos cheios de juízos decrépitos, e dance. Dance, dance, dance, Marcelo... um blues...um rock...um funk...um pagode...o que você quiser. Eu adoro o seu jeito de dançar.
Sei que minha cabeça tem uma sala atravancada por muitos trastes e lembranças sem nenhum senso de humor. Esta sala na minha cabeça não é, definitivamente, a sala de estar de um hotel cinco estrelas, também não se parece com um salão de baile, muito menos com um barraco em acampamento de sem-terra. Esta sala na minha cabeça se parece com coisa nenhuma. Na verdade, se parece com muitas coisas, todas meio autistas, quase sem comunicação umas com as outras, uma verdadeira torre de babel.
Gato, dê uma olhada nos discos. Quer rock dos velhos tempos? Tem aí Rolling Stones, Led Zepelin, Mutantes, ah, Mutantes, o melhor grupo de rock que este país já viu. Quer samba? Tem Noel, tem Lupicínio, tem Cartola, tem Paulinho da Viola. Quer Chico? Tem. Quer Caetano? Tem. Tem Elis, Adriana Calcanhoto, Betânia, Ney, Chico César, Cazuza... tem de tudo um pouco ... de gerações antes de mim...da minha geração...dos que vieram depois...mas falta quase tudo do que se está fazendo agora, afinal, ando meio defasada...desligada, como diz há ... séculos a vovó rsrsrs Rita Lee.
Quando o Fernando chegar, a gente pode até ensaiar uma performance aqui, na sala da minha cabeça. Ensaiar uma performance... essa é ótima, só eu mesma. Enfim... depois a gente filma e leva pra galera assistir.
Pois é. Agora você, amor, tem companhia aqui em casa, na sala da minha cabeça - vá pro quarto, leia algum dos seus poetas preferidos... Augusto dos Anjos... Florbela Espanca... Eugênio de Andrade... me deixe aqui, um pouco sozinha, com meu amigo. Não tenha medo, o Marcelo está apaixonado por um ruivo lindo que não se parece comigo nem com você.
Bem, amigo Marcelo, a cadeira é confortável, mas, a sala está uma zona, você devia ter me avisado que vinha, não tive tempo para arrumar nada, nem para dar uma disfarçada. Não repare, por favor. Claro, você não repara jamais nessas coisas, gato.
Conte como foi a noite do seu aniversário. Imagino você lindão com a cueca e a camiseta que o Ricardo lhe deu e depois vocês dois a mil, muito juntos, muito loucos.
Sabe, neste momento, minha cabeça está mais gostosa e mais light, com você aqui dentro. Por favor, fique à vontade. Levante, afaste a escrivaninha para um canto, ignore aquela Idéia rabugenta a balançar a cabeça nos reprovando, com seus olhos cheios de juízos decrépitos, e dance. Dance, dance, dance, Marcelo... um blues...um rock...um funk...um pagode...o que você quiser. Eu adoro o seu jeito de dançar.
Sei que minha cabeça tem uma sala atravancada por muitos trastes e lembranças sem nenhum senso de humor. Esta sala na minha cabeça não é, definitivamente, a sala de estar de um hotel cinco estrelas, também não se parece com um salão de baile, muito menos com um barraco em acampamento de sem-terra. Esta sala na minha cabeça se parece com coisa nenhuma. Na verdade, se parece com muitas coisas, todas meio autistas, quase sem comunicação umas com as outras, uma verdadeira torre de babel.
Gato, dê uma olhada nos discos. Quer rock dos velhos tempos? Tem aí Rolling Stones, Led Zepelin, Mutantes, ah, Mutantes, o melhor grupo de rock que este país já viu. Quer samba? Tem Noel, tem Lupicínio, tem Cartola, tem Paulinho da Viola. Quer Chico? Tem. Quer Caetano? Tem. Tem Elis, Adriana Calcanhoto, Betânia, Ney, Chico César, Cazuza... tem de tudo um pouco ... de gerações antes de mim...da minha geração...dos que vieram depois...mas falta quase tudo do que se está fazendo agora, afinal, ando meio defasada...desligada, como diz há ... séculos a vovó rsrsrs Rita Lee.
Quando o Fernando chegar, a gente pode até ensaiar uma performance aqui, na sala da minha cabeça. Ensaiar uma performance... essa é ótima, só eu mesma. Enfim... depois a gente filma e leva pra galera assistir.