Inverno
O frio mais tenebroso é aquele que vem de dentro. Irradiando sua aura gélida do coração à pele.
Cobertores não são mais úteis, o calor leve do outono já não traz a sensação agradável de sempre, a bebida fumaçante deixa de ser êxtase.
Aqueço-me, pois, nestes dias de inverno, somente com o emaranhado de promessas vazias e lembranças fétidas que me restou. O copo cheio na mesa do bar ao lado do corpo vazio. O devaneio. A sombra dos beijos que não aconteceram. O café que esfriou. Os planos fracassados. Aquele barco furado fadado ao naufrágio. Frágil... A minha mente que gira como um carrossel descompassado e causa-me tontura.
Ouço som de passos. Sinto a melancolia daquele cortejo fúnebre. Quando o corpo é alimentado de ilusão, a alma suicida-se.