Paredão Metralhadora no carnaval!

     1. Agora, mergulhado na tranquilidade da Quaresma, teço ligeiros e despretensiosos comentários sobre a "música" que acabou sendo eleita a melhor do carnaval-2016 em Salvador. E qual foi ela?
     2. Creio que, na falta de outra, e com ostensiva ajuda da imprensa, a massa soteropolitana escolheu Paredão Metralhadora como a "música" dos foliões, nos sete dias de folia. Sinal dos tempos? Quem sabe...

     3. Mesmo "enguiando", me dei ao sofrido trabalho de ouvir, com calma, a "música" que fora eleita; dispensando cuidadosa atenção à sua letra que tem como refrão essa coisa: "Pega Metralhadora/ Trá,trá,trá, trá..." E tome tiro pra todo o que é lado.
     Confesso, que, em determinado momento, me senti em plena Linha Vermelha, a caminho do Aeroporto do Galeão, em noite de intenso tiroteio!
     4. "Trá, Trá, Trá..." Cuidei da letra, com toda essa atenção, me lembrando da violência que aterroriza o meu dia a dia; uma musiquinha qualquer falando de paredão, metralhadora, tiros chega a amedrontar; no mínimo a assustar.
     5. Forçoso é reconhecer, que, da musiquinha escolhida pela galera endoidecida, depois de muita Schin - nada de Skol, Brahma, AntÁrtica e até de Itaipava, ainda que servida, com encantadora elegância, pela insinuante Vera-verão -,  forçoso é reconhecer que, da "música" eleita, aproveita-se, apenas, a coreografia apresentada pela jovem cantora Tays Reis, também sua interprete.
     6. Sim, Tays, a bonita baianinha, vinda das terras da Gabriela, com sua Banda Vingadora (Por quê?) fez do nada um surpreendente acontecimento musical, durante o reinado de Momo.
     7. Queira-se ou não, Paredão Metralhadora  ficará na história do carnaval de Salvador; disputando, talvez, com Lepo-lepo (carná de 2015) qual das duas "músicas" é a pior. Perdão: Lepo-lepo é o fim da picada, como dizem os baianos. Pior não há.
     8. Fora, portanto, a beleza física da Tays e sua arrojada coreografia - que encantou os meus olhos e povoou minha imaginação -, Paredão Metralhadora  é uma musiquinha paupérrima, chula e como disse um amigo meu, velho folião, "terrorista e enigmática"...
     9. Para não dizerem que estou exagerando ao chamar a "música" eleita de paupérrima e chula, deixo com o meu amado leitor, para sua avaliação, a letra de Paredão Metralhadora, que, lamento, marcou o carnaval de Salvador em 2016.
     10. Vamos lá: "Paredão zangado,/ Grave tá batendo,/ Médio tá no talo,/ Corneta tá doendo. == Pega metralhador == Trá,trá,trá/ As que comandam vão notrá/ Trá (três vezes) = Trás (cinco vezes) === Ele tá zangado,/ Tá querendo falar,/ Já tá todo armado/ Tá pronto pra atirar/ Pega a metralhadora!" Que qui é isso, minha gente?
     11. Mas o povão gostou! Fazer o quê? Só nos resta aguardar que, com a volta do carnaval de rua, com suas bandinhas e suas fantasias jocosas e irreverentes, bons compositores tragam de volta à folia baiana músicas que se respeitem e respeitem o distinto público, fantasiado ou não. Alô, alô, Luiz Caldas, Moraes Moreira, Waltinho Queiroz, Gil, Caetano. 12. Chega de tanta asneira musicada; que só agridem a memória de compositores mominos como, lembrando alguns, Haroldo Lobo, Lamartine Babo, Mário Lago, David Nasser, o inigualável Braguinha, e João Roberto Kelly que nos brindou com uma marchinha cantada até hoje e arrancando aplausos: Cabeleira do Zezé.
     13. Zezé, segundo o extraordinário escritor Ruy Castro, um garçon querido por todos que frequentavam um conhecido restaurante no Leme, inclusive João Roberto Kelly.
     Em tempo: apesar do refrão "Será que ele é, será que ele é", o Zezé da marchinha não era o que o amado leitor está pensando, garante Ruy Castro. 


 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 19/02/2016
Reeditado em 20/02/2016
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