Os Complexos

 
Fora admitido no “Ginásio”. Antiga escola formadora de elite. Para entrar tinha que fazer o “Concurso de Admissão” – verdadeiro vestibular para quem podia se preparar com cursos pré-exames.

Os livros da nova fase estudantil eram um encanto com suas ilustrações fotográficas didáticas – diferente das apostilas monótonas mimeografadas dos “Grupos Escolares”.

O manual de geografia seccionava-as segundo o desenvolvimento das áreas: regiões de atividades primárias e aquelas com “Complexos Industriais”. Aprendeu  com isto uma nova palavra acrescida ao vocabulário – COMPLEXO.

Percebeu que naquela época o vocábulo era muito usado também para designar “Estados Psicológicos”. Dizia-se comumente: “Ele tem complexo de inferioridade”. Como as áreas eram agrupadas segundo seus complexos econômicos, as pessoas eram taxadas de acordo com seus complexos sociais, físicos, psíquicos.

Para cada “bullying” praticado pelo agressor havia a pecha de um complexo para a vítima.
O mais temido era a loucura: “Ela é tão diferente... É uma louca!”.
 
Lendo “Comédia da Vida Privada” em que o autor retrata o modo de vida daquela época notou que ele utiliza este termo em muitas de suas crônicas. “Complexo” era um termo de fato recorrente para também analisar comportamentos. O psicologismo estava na moda e taxar comportamentos denotava sabedoria - falsa.
 
Leu-se recentemente na internet um artigo que tratava dos sentimentos de culpa que muitas pessoas têm na atualidade. Dizia o texto que quem sente culpa inexplicável sofre de “Complexo de Onipotência”. São os tempos pós-modernos desfazendo o romantismo cujo mantra cristão era: “Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa!” e todo sofrimento desejado se explicava.

Complexo de onipotência e oniciência!

Pensou-se muito nisto e pode deduzir que a vizinha que não larga seu celular sofre deste mal. No caso não só este complexo, mas o de oniciência também. Ao procurar saber do mal alheio e expressar seu cuidado ela invade privacidades. É um inferno público!

Amanhece  e ela já está com seu aparelho controlando a vida de todos os seus familiares e se deixar de seus vizinhos também.

Público porque ela não se incomoda de tornar audível para os que moram ao redor quais são os males de seus irmãos, irmãs, mãe, cunhados e tias. Ela se sente responsável em resolver, curar, controlar, se informar e gerenciar a vida de cada um deles.

Anoitece e ela está no controle de todos à distância. Se deixar, ela de perto quer controlar a vida e a casa dos vizinhos também. É mais que fofoqueira. Sente-se onipotente para resolver as mazelas do mundo.
 
Refletindo sobre as atitudes humanas e seus “complexos” é que classificou aquele senhor no hotel como sofrendo também de outro complexo: “Complexo de Oniciência”!

Chegava a ser incômodo. Ele, o “Sênior Oniciente”, sentia-se na obrigação de conversar, se informar e oferecer sua residência a todos que encontrava no saguão, no refeitório e áreas do estabelecimento. Não importava se o outro fosse adulto, jovem e até mesmo criança. Sua esposa tinha que controlar sua necessidade de se fazer presente, se ofertar e saber o alheio através de sua gentileza excessiva. Seu comportamento extrapolava a etiqueta de convivência. Não era educação. Era mania.
 
E você tem complexo de quê?


O autor parece que tem complexo de escrever e tantos outros que nem se mostram.


Leonardo Lisbôa
Barbacena, 26/01/2016
   
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 19/02/2016
Reeditado em 19/02/2016
Código do texto: T5548143
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