Superfantasticamente
Outro dia vi um filme que me arrebatou de verdades.
Uma delas é que as coisas e pessoas pelas quais temos obsessão não são verdadeiramente desejadas.
Parece óbvio, mas às vezes a gente pensa que é porque o querer é demais de grande.
Aceitar não querer/aceitar não querer querer alguma coisa ou pessoa é tão difícil que as preferimos querer irracionalmente.
Já tive algumas obsessões.
Mas hoje, as coisas que podem parecer para mim obsessões são, na verdade, pedaços de mim:
o mar são minhas melhores horas; o computador é meu ócio; os livros, meu futuro.
Um dos amigos é minha fossa; outro, minhas melhores gaitadas; outro, minha análise.
Minha casa é meu tormento.
As coisas que a mim estão longe de parecer obsessões são meus quereres mais verdadeiros:
gosto calmamente, usufruo esporadicamente, mesmo desejando-os profundamente.
Essas coisas precisam de muito não: querê-las já é quase o bastante.
Gostá-las já faz feliz.
Tê-las parece mais extravagância.
O bom é ficar saboreado, pensado, alimentado sem pressa e com preguiça.
Querer bom é assim: sem sugar todo o leite, mas sem jamais ser apenas enfeite.
São esses os quereres que me sustentam os dias.
São eles que me fazem ir para além da realidade: para a fantasia.
E a fantasia: esta é o meu mundo.