Superfantasticamente

Outro dia vi um filme que me arrebatou de verdades.

Uma delas é que as coisas e pessoas pelas quais temos obsessão não são verdadeiramente desejadas.

Parece óbvio, mas às vezes a gente pensa que é porque o querer é demais de grande.

Aceitar não querer/aceitar não querer querer alguma coisa ou pessoa é tão difícil que as preferimos querer irracionalmente.

Já tive algumas obsessões.

Mas hoje, as coisas que podem parecer para mim obsessões são, na verdade, pedaços de mim:

o mar são minhas melhores horas; o computador é meu ócio; os livros, meu futuro.

Um dos amigos é minha fossa; outro, minhas melhores gaitadas; outro, minha análise.

Minha casa é meu tormento.

As coisas que a mim estão longe de parecer obsessões são meus quereres mais verdadeiros:

gosto calmamente, usufruo esporadicamente, mesmo desejando-os profundamente.

Essas coisas precisam de muito não: querê-las já é quase o bastante.

Gostá-las já faz feliz.

Tê-las parece mais extravagância.

O bom é ficar saboreado, pensado, alimentado sem pressa e com preguiça.

Querer bom é assim: sem sugar todo o leite, mas sem jamais ser apenas enfeite.

São esses os quereres que me sustentam os dias.

São eles que me fazem ir para além da realidade: para a fantasia.

E a fantasia: esta é o meu mundo.

Cristina Carneiro
Enviado por Cristina Carneiro em 01/10/2005
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