Ruas Mortas
Nota do autor - publiquei este texto há muitos anos, no antigo site vivasp, como Luiz Ramos, gosto dele.
Dia desses, vindo da Faria Lima – via Rebouças – emboquei na Alameda Santos.
Trânsito lento até o Trianon, no entanto, consegui trocar a irritabilidade que a lentidão desperta pelas visagens boas que essa lentidão nos traz: mulheres bonitas, bares – cerveja espumando nos copos – mulheres, bares, mulheres.
A tarde caía sossegada. Na Cultura AM, Bebel Gilberto ronronava. E, num átimo, tudo foi gira-girando – não na girândola da ausência em si – mas na voragem do pensamento alucinado, mnemônico, aquele que faz sofrer e arrebenta, pois foi ali, onde termina a Alameda Santos e começa a Rua Cubatão que me bateu uma saudade doída. Foi ali, que um frio na alma me trouxe de volta o ano de 1983. Porque, dentro de instantes, eu passaria defronte ao Hospital Santa Rita, hospital onde teve início o fim do meu pai sobre esta terra.
Passei, passou. Na confluência com a Domingos de Moraes eu já estava refeito. Tudo passa e, em assim sendo, voltei a olhar as passantes. Tornei a olhar com gulodice os copos transbordantes e as passantes.
Entrei sentido Cambuci – uma feira livre me tolheu – embarafustei sentido Ipiranga e nas ruas mortas me perdi.