O Zumbi

Ele dividia espaço, apenas espaço, em um quarto de hospital; nao se manifestava, não sorria, não chorava; não trocava impressões, talvez não tivesse mais impressões, nem mesmo digitais; olhava para o teto, com se no teto estivessem todas as constelações; impressões soltas, contavam, que ele via anjos, que ele via vidas, que ele via idas.

Ele não tinha dentes, não tinha mente e não tinha sementes; todo seu legado já havia sido plantado; todos seus frutos já haviam sido colhidos; ele agora só dividia espaço.

Ele tornou-se o centro de todas suas referências, que orbitavam ao seu redor; ele era, involuntariamente, o eixo, ao redor do qual giravam referências.

Ele era o último capítulo, o epílogo; não havia mais tábuas, às quais poderia se agarrar o náufrago;quase não havia mais o náufrago; os braços não tinham mais forças, para se agitarem acima da tona; não havia mais tona, o mundo dele estava se tornando submerso; sua vida estava se afogando...ele já havia se afogado, apenas faltava aparecer a expressão "FIM"

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 18/02/2016
Reeditado em 18/02/2016
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