Tragos de Sobrevivência
Sobrevivo às síncopes diárias norteadas pela brisa suave do sopro de alguém que gosta de inclinar-me à solidão.
Abro as janelas durante a madrugada chuvosa e acendo cigarros que se esvaem quase tão rápido quanto aquele amor que um dia à mim foi jurado.
Meus olhos são sombrios como os pássaros que, alheios ao tintilar das espadas da guerra civil travada nas minhas entranhas, migram para perto dos pulmões. Impossível, mas bonito. Belo e triste, como o corvo chamado Nunca Mais.
Embriago-me de solidões alimentadas. Entorpeço-me da poeira das estrelas que cantarolam algo sobre uma vida sem precedentes.
Numa noite qualquer sonhei que havia sido para ti algo mais que um remendo furado para tentar tapar brechas antigas. Sonhei que havias me amado. E que coisa mais bonita há do que que ser somente amor? Impossível mais bonito.
Desejei que o sol nascesse e me trouxesse uma última vez quele colibri. Senti falta do seu canto. E, tu bem sabes, nunca gostei do amanhecer...