Amoreco febril

Sempre que acordo, bem cedinho, passo a vista nas manchetes do jornal, dou uma olhada na internet, assisto um pouco à tevê e ligo o rádio na CBN, e vou tomando conhecimento de tudo o que é notícia ruim E, incontinenti, vou ficando com raiva do Brasil, e maquinalmente repito o bordão: "Este não é um país sério!". Mas aí tomo um café copm tapioca, bolo Sousa Leão (o melhor bolo do mundo), cuscuz com leite e pão com manteiga de fazenda, vou depois para a janela do quarto, dou uma respirada boa, e então boto uma fita que tem mais de 30 anos no velho som Toshiba, começa com Clara Nunes cantando "Menino Deus", Gal vai de Só Louco, Nana Caymmi, "Se queres saber", Elis, "Como nossos pais"... Enquanto ouço pego um dos meus livros prediletos de crônicas, Fernando Sabino, Rubém Braga, Antonio Maria, João Ubaldo Ribeiro, Luis Fernando Veríssimo... Leio algumas crônicas e, de repente, vai voltando meu amoreco febril pelo Brasil. É uma espécie de amor apache que bate e apanha. Resultado: entro nos eixos, chego até a assoviar aquelea musiquinha País Tropical. Desparece a revolta.

Na verdade, apesar dos pesares, não há país melhor que o Brasil, tem um povinho meio sem-vergonha, me incluo dentre essa massa, mas alegre,pacifico, bem-humorado e que,pasmem, é feliz. Somosdiferentes desse bando de estranhas complicados e tristes. Aqui não existe pecado, como disse Chico naquela música que diz não existe pecado debaixo do equador...

Uma das coisas que mais admiro no Brasil é que ele é um continente com regiões distintas, raças distintas, usiose costumes distintos, pestados ricos,médios e pobres e, no entanto, nunca se dividiu. Permanece unido, apesar das crises e problemas. Do Oiapoque ao Chuí todos são irmãos e não se fala em secessão. Sou um cara meio desconfiado e cabreiro, achoque isso só foi possível porque Deus é brasileiro..

Tinha razão Fernando Sabino quando escreveu: "Não há nada mais brasileiro que um brasileiro. E o que intriga amaioria dos sociólogos que não se dão ao trabalho de estudar essa charada que é o Brasil; por mais quecariocas, paulistas, mineiros, gaúchos ou nordestinos, sejam diferentes uns dos outros, há qualquer coisa que os identifica em qualquer lugar do mundo como brasileiros: o seu espírito de independência e o seu apego à liberdade, que um dia acabarão fazendo realmente do Brasil um grande país".

É isso aí, meacordo meio jururu e com raiva do Brasil, mas logo logo baixa em mim o amnreco febril pelo patropi. Inté.