O "diarista" ZETERRIUM

Era um profissional liberal, um dentista, seus habitos lhe garantiram sua alcunha- o diarista - sim, ele a tudo registrava, seus romances,suas decepções, suas conquistas, suas derrotas, particularmente seus vencmentos e suas despesas, seu diário era um roteiro, era sua biografia escrita diariamente, com que precisão fazia sua contabilidade, todas as entradas, todas as saídas: seu consumo mensal na padaria, suas palavras cruzadas devidas ao jornaleiro, e pagas ao final de cada mês, até mesmo seus pães-de-queijo, que , também acertava mensalmente, no quiosque ds esquina.

Seus métodos eram tão rígidos que o volume de dados estava se tornando demasiado, para o seu livro amante e amado, e a tecnologia começou a exigir que as informações fossem registradas em um computador; e ele assim o fez, levando para casa um aparelho de última geração, para tomar o lugar daquela brochura, com a qual, por tanto tempo, compartilhara todos seus momentos sociais, diílicos, íntimos, e momentos que não revelaria a mais ninguém.

Nas primeiras investidas o equipamento já mostrou que tinha vida própria; ninguém lhe avisara que para exercer pleno domínio sobre um computador, você, necessariamente, tem de ter nascido com ele, ser seu irmão gêmeo, é preciso que sejam da mesma geração, que falem o mesmo idioma,que tenham o mesmo discernimento.

O velho escriba estava apanhando da moderna máquina; as informações a serem anotadas eram completamente deturpada pela geringonça, o "diarista" não se conciliava com aquele aparelho, sua vida e sua contabilidade estavam se transformando em um caso absoluto.

Com a pesada carga de culpa, de derrota, e de arrependimento, adormeceu, e sonhou que se encontrava em um pleta chamado ZETERRIUM, o mundo perfeito dos registros e das comunicações; onde o saldo devedor, mensal, de pão-de-queijo, tinha sua coluna específica; a canta da padaria, também tinha sua coluna reservada.

Pronto, agora seria apenas colocar as informações, nas colunas devidas, mãos à obra: mas tudo estava em zeterriano, e ele não sabia ler pão de queijo em zeterriano; naõ conseguia ler padaria em zeterriano; como também não sabia escrever Maria, o nome de sua amada, em zeterriano.

Queria parar, queria voltar ao velho diário, voltar a usar a borracha e o branquinho, para apagar; retomar seu velho diário; onde sabia expressar o que queria, e, sobretudo sabia colocar nele suas emoções.com

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 16/02/2016
Reeditado em 18/02/2016
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