SANATÓRIO GERAL

SANATÓRIO GERAL

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

Tempo de carnaval. Por aqui “vai passar” um samba popular. E eu vou nessa com Chico Buarque, em tom irônico, lá pelos idos de 1984, época das Diretas-já. Mesmo enquanto dorme a nossa pátria mãe tão distraída, nada impede de haver carnaval e, em alguns lugares, de alto, altíssimo custo, seja no sambódromo da Marquês de Sapucaí seja em monumentais trios elétricos. E atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu. Enquanto isso, enquanto dorme, nossa pátria mãe tão distraída é saqueada, subtraída em inimagináveis, espúrias e milionárias transações passando por propinodutos bem desenhados. E ninguém via, e ninguém sabia. O povo brasileiro, penitente, sem saber qual o seu pecado, trabalhando dia e noite, por isso cansado, acreditando cegamente nas autoridades. E, como miséria pouca é bobagem, eis que surge uma quádrupla epidemia. Quádrupla que rima com quadra, quadra de escola de samba. Esse quarteto passou a tomar conta do País: dengue, chikungunya, zika vírus, microcefalia. Um sanatório geral, nosocômico e moral, ambulante, sem vigilância e de atendimento médico precário. O povo sem saber se chora ou se ri, num perene carnaval, ou se senta e chora.

Tempo de carnaval. Tempo de tirar o bloco da quadra e botar o bloco na rua, sem dar importância a “Nessun dorma”. Alegria fugaz, mas alegria. Pão e circo, samba e futebol. Assim caminha nosso Brasil, sempre devendo, o povo sempre tendo que pagar a conta. Até quando?

O carnaval acabou. Passaram-se os dias em que brasileiros de diversas classes sociais se nivelam num aperto de saudade no tamborim, molhando o pano da cuíca com as próprias lágrimas. Por três dias deixam de lado as roubalheiras, nesta mãe gentil, pátria amada, Brasil. Zombam dos outros e da própria sorte, gingando e protestando. O noticiário muda o foco. Dá uma trégua às mazelas nacionais. Agora tudo voltou ao real. José “quer ir para Minas, Minas não há mais”. Você marcha, José! José, para onde?

Antônio Oliveira MG
Enviado por Antônio Oliveira MG em 15/02/2016
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