A Festa das Contradições

Sempre quis sentir as sutilezas, estranhezas e prazeres do maior festa da carne do planeta, apenas experimentas por opiniões alheias que não ofereciam a dimensão exata da grandeza imensurável da qual a festa transmite. Nesse meu olhar voyverista contemplei belezas e feiuras, prazeres e horrores, rotinas e surpresas que me fizeram experenciar sentimentos concentrados nos seis dias de festa.

Nesse sentido estava lá dançando, pulando e cantando, o suor descia sobre meu rosto banhando o sorriso e a euforia transbordava em mim. E claro não pude deixar de visualizar a beleza negra soteropolitana que mexia seus corpos empoderando-se sobre sua estética e desafiando o racismo que imperava perante as cordas que separavam os privilegiados pela cor e pelo dinheiro que olhavam de cima para baixo das suas fortalezas medievais chamadas de camarote. Pois, o sofrimento dos cordeiros, ambulantes e, negros revistados e presos era aliviado pela cultura, resistência e efervescência negra presente em cada espaço da festa.

Naqueles instantes observava mulheres guerreiras, lindas e sensuais que mostravam seus dotes, desejos e talentos que enfrentavam assédios, tentativas de beijos forçados e outras atitudes machistas com bravura e intolerância. Não deixando cair na cultura do medo e impondo sua vontade com roupas curtas ou longas com ousadia ou decência. Sim, beijavam, deliciavam brincavam e de forma subjetiva queriam respeito. Era lindo ver tais atitudes tendo sido agraciado com um beijo quente e molhado. Adoro esses deleites da carne.

Sabe a situação melhorou quando me brindavam com beijos gays ou lésbicos, ficava admirado na mesma intensidade com a naturalidade que se beijavam e nojo de olhares que repudiavam a diversidade que é uma lei do carnaval. As homofobias não os intimidavam na verdade o único desejo deles era mostrar todo prazer no calor do momento, na palavra indecente, no toque ousado ou no abraço apertado. Também queria participar.

Por isso digo que vivi um sonho real, uma situação palpável com bastantes contradições, mas cheio de esperanças. As cenas que surgiam não eram todas agradáveis, mas presumia mudança de uma sociedade que busca liberdade sobre suas ações, corpos e, sobretudo sobre seus desejos. Sim, precisava viver essa fábula, sentir esse espetáculo da vida real e com empirismo entender um pouco as mudanças e permanências de atitudes ao meu redor. Anseio pelo próximo Carnaval.

Texto realizado dia 15/02/2016 ás 00:06.