Corpos no Freezer

 


            Um crime de primeiro mundo choca mais que um cometido no terceiro mundo? A própria definição de “Bem” ou “Mal” é tese de muitas controvérsias. Recorrendo ao Aurélio, sempre bom e a postos, descobrimos que o “Mal” é “tudo que se opõe ao bem; tudo que prejudica, fere ou incomoda”. Dessa forma, tendo a pessoa um nível de civilidade e de entendimento razoável, podemos afirmar que tudo o que incomoda uma maioria mentalmente sadia é o “Mal”.

            Acorda comigo o leitor, que se você fosse convidado a jantar na casa de um amigo, e que este, lhe pedisse após o banquete, para guardar uma vasilha de sobras no freezer, você agiria com a maior naturalidade. Mas o que o amigo encontraria no freezer? Uma mulher, na impecável e civilizada Bélgica, passou por esta situação.

            Jantou alegremente com um velho e bom amigo de 42 anos, a mesma idade deste cronista. Provavelmente a ceia foi regada a boas doses de vinho. O anfitrião, louco para cometer um deslize, talvez desejando ser logo descoberto e tragado pela justiça, querendo limpar de algum modo a sua pálida consciência, solicitou à moça (deduzo que seja moça, pelo menos confere à crônica maior charme) solicitou que guardasse algumas sobras do jantar no freezer familiar.

            Ela o fez com o maior desembaraço. Somente não esperava ver o que viu. Dois corpos no freezer. Um pertencia à mulher do anfitrião e outro ao seu enteado, de apenas 11 anos. Sempre me comovo quando leio essas histórias envolvendo crianças.

            Sabe-se que o casal vivia mal e entre brigas constantes. Não se sabe porque o psicopata matou a criança, embora ele tenha confessado ter matado a mulher após violenta discussão. Usou da faca para consumar o crime. Suponho, na imaginação de escritor, que o menino não ficou passivo e tentou impedir. Entrou para o rol das vítimas.

            O assassino, querendo ser pego pela polícia, devido à sua “psique” atormentada, tramou o jantar. Ele queria uma testemunha e não uma vítima. Precisava aliviar o peso de sua consciência. Quem sabe se de sua mente, nos seus sonhos atribulados, não voltavam os fantasmas do freezer a assombrá-lo? Sei apenas que quem comete um crime perde a paz. Isso baseado em testemunhos e relatos que acompanhei durante a vida e meus estudos do gênero humano e de sua condição neste orbe.

            A convidada chamou a polícia. Ficou com os nervos em estado de abalo. Não relatou a imprensa o que foi servido no jantar. Imagino o ar da jovem se for picadinho de carne. Melhor não pensar no assunto e deixar os belgas em paz. Temos crimes demais aqui, no terceiro e distante mundo...

 

 

(Comunicamos aos amigos do Recanto o lançamento do nosso novo livro:
O Homem que não Bebia Cerveja! Clique no link e indique aos amigos 
http://www.corifeu.com.br/comprar.asp?CODIGO=251! Um abraço!)