TER CARA DE POBRE
É pior que ser pobre de verdade.
Certo fim do ano, de férias, vendi o Fusca. Pensava trocá-lo por um mais confortável. Andando, naquele calor de dezembro, atravessei a cidade e fui a uma concessionária, de short e sandália. Estava exposto um Monza branco, zero. Todo suado, perguntei o preço ao vendedor, que era um japonês: -É caro, respondeu-me simplesmente. E foi para os fundos, deixando-me sozinho. Esperei, esperei e como ele não voltou, fui embora. Passei em outra agência e adquiri um Gol. Essa história é objeto de muita gozação, quando a conto.
No início de cada ano, costumo pagar as contribuições às entidades assistenciais de uma só vez. Para uma delas, contribuo há anos, com R$10,00 mensais. E a sede fica também do outro lado da cidade onde moro. Este ano, quando fui saldar, a funcionária, velha conhecida, pois trabalha ali há muito tempo, deu-me o ultimato. O senhor já vem contribuindo há muito tempo e nunca utilizou dos nossos serviços. Por isso, faço a seguinte proposta: O senhor eleva o valor para R$50,00 mensais ou fica fora da lista de contribuintes. Esse é o último pagamento que vamos aceitar, ante a recusa minha de concordar com o novo valor.
Outra entidade para o qual contribuo com R$20,00 mensais, também nunca mais apareceu para receber o valor, Isso há meses. Perguntei na vizinhança e todos confirmaram que o cobrador tem aparecido regularmente. Só na minha não. Penso que ele não quer reduzir o meu poder de compra.