Um bom lugar para viver
Lembro-me de quando eu era pequeno, um garraio ainda, como era chamado pelos mais chegados, dos intermináveis discursos que ouvia das pessoas mais velhas que sempre se queixavam da falta de investimentos consideráveis em nossa região.
As pessoas reclamavam da falta de oportunidade de emprego, dos escassos investimentos em infraestrutura, da necessidade de se atrair investimentos de fora para fomentar o desenvolvimento da região. Como sou um cidadão nascido e criado em Redentora, vou usa-la como exemplo, e volta e meia, vem a minha cabeça a lembrança de anúncios de algum empreendimento que chegaria para gerar emprego e renda.
Lembro-me das pessoas comentando de uma fabrica de palitos, que geraria, se não estou equivocado, quarenta empregos. Não gerou emprego nenhum e desapareceu mais rápido do que apareceu. Lembro também do anuncio de uma fabrica de móveis e mais uma vez das pessoas correndo para os locais de inscrição em busca de uma vaga. Preenchiam fichas e ficavam esperando para serem chamados. A tal fabrica se instalou, não lembro se contratou alguém, mas lembro de que também fechou e faliu sem mais nem menos.
Lembro-me das queixas na época recorrente aos atendimentos de saúde que era de fato, creio eu, afinal não tinha ideia para compreender a complexidade da situação em si, deficiente. As pessoas reclamavam da falta de medicamentos na secretária de saúde, da falta de qualidade no Hospital Santa Rita de Cássia que tinha apenas atendimento básico.
Via as pessoas reclamando das estradas que volta e meia estavam intransitáveis, já que na época várias ruas não tinham pavimentação nem calçamento na cidade e poucas eram cascalhadas no interior. Lembro também de me reunir com outros garraios para irmos aos barrancos da RS 317, ver os carros atolar e patinar nos dias de chuva.
Lembro-me de todas as pessoas reclamando da falta de investimento, do alto nível de pobreza da nossa região, mas lembro que em todos havia um brilho no olhar quando diziam que essa não era uma região desenvolvida, mas era um bom lugar para se viver. Não conseguia na época fazer a conexão de como uma região que rendia tantas queixas podia ser ao mesmo tempo um bom lugar para se viver.
Pensando bem, agora, um pouco mais vivido e muito menos garraio, vejo que de fato a região era um bom lugar para viver. Primeira coisa que pode se dizer é que em nossas pequenas cidades, todo mundo conhecia todo mundo. Sendo assim, mesmo que dentro de uma perspectiva ilusória, todo mundo se preocupava com todo mundo. Final de semana era dia de futebol, de ver o 9 de Julho, São Jorge, Real Juniors, Ajax e outros times tradicionais da cidade e do interior que se enfrentavam em embates históricos aos olhares atentos de famílias inteiras que iam para o Estádio Municipal Ricardo Tesche.
Na verdade isso tudo está atrelado ao meu olhar romântico de um tempo que pouco me lembro, mas posso afirmar sem medo de errar que a nossa região era um bom lugar para morar. Tinha sim seus problemas, mas na sua grande maioria era um bom lugar para viver. Você podia deixar a casa aberta, que não tinha risco de alguém entrar e furtar tudo. Você podia deixar o carro estacionado na frente de casa e acordar no outro dia sem medo de que durante a noite o levassem embora. É verdade que as vezes acontecia, mas quando acontecia, eram casos raros, ou seja, algo anormal. Era uma época em que você tinha segurança. E um lugar onde haja segurança, certamente podemos dizer que este é um bom lugar para se viver.
No tempo atual o desenvolvimento está chegado em nossa região. Empresas estão se instalando aqui, exemplo da Mais Frago em Miraguaí, gerando empregos e renda. Hoje hámuito mais oferta de empregos do que naquele tempo. Redentora está finalizando um distrito industrial que me leva a crer que foi feito em cima de um planejamento estratégico e já devem existir indústrias interessadas em se instalar, pelo menos pensou que sim. Afinal os prefeitos da nossa região não investiriam em um distrito industrial para transforma-los em elefantes brancos. A RS 317 não atola mais nenhum carro, apesar de volta e meia sofrer com a falta de manutenção. As ruas da cidade a maioria tem calçamentos, outras tem asfalto. O Hospital Santa Rita de Cássia fechou as portas, mas uma grande casa de saúde está suprindo está falta, caso do micro regional Santo Antônio de Tenente Portela.
Claro que as coisas ainda estão longe de serem as ideais, mas as pessoas não podem negar que algumas coisas estão mudando e estão melhores em alguns aspectos relevantes. O exemplo de Redentora pode ser aplicado à maioria dos municípios da nossa região.
Então me pergunto, porque a chegada do ainda tímido progresso, e suplementação de muitas queixas de ontem não transformou a nossa região num lugar ainda melhor para se viver? Simples resposta. Estamos perdendo a nossa segurança, e um lugar sem segurança não pode ser um bom lugar para se viver. A região está melhorando em alguns aspectos, mas está cada vez mais insegura. Falta de efetivo, equipamentos, estrutura das forças de segurança é um dos fatores, porque infelizmente o nosso recente e lento passo em caminho do desenvolvimento não está sendo seguido pela nossas forças de segurança. Os números provam, a nossa região a cada dia, se torna um lugar menos bom para viver.
A região precisa abrir os olhos. Nos precisamos cobrar mais. Pois se a segurança era a única coisa que garantia que este era um bom lugar para viver, pense no que nos restará quando ela não estiver mais entre nós.