NO PEITO UM NOVO CORAÇÃO

Quando a conheci ela era uma menina-moça que desabrochava. Ela veio até mim, apresentou-se. Passados tantos anos, tenho pra mim, que foi um reencontro de almas afins. 
Ela sempre me diz que sou uma segunda mãe pra ela, e ela pra mim é como um filha querida.

Trabalhamos juntas por longos anos, e pude ver um valor imenso naquela jovem, ela diz que muito aprendeu comigo, e eu repito que tenho aprendido muito com ela.
A força, garra, bondade, generosidade, capacidade de perdoar, aceitar o outro como ele é, com qualidades e defeitos, é algo fácil para ela.

A menina-moça de ontem, hoje é uma jovem senhora de pouco mais de quarenta anos. Continua bonita por fora, e cada dia mais encantadora por dentro.
A vida a tem lapidado como a um diamante. Vejo nela a certeza de que: "O Pai não coloca fardos pesados sobre ombros leves". 
Desde menina mostrou-se guerreira, nunca lhe faltaram problemas sérios para administrar, e à ela nunca faltou coragem para enfrentá-los.
Porém, mesmo acostumada aos embates da vida, ela não podia imaginar o que a esperava. 

Ao ser mãe pela segunda vez, conheceu de perto a angústia de poder perder o amado fruto do seu frente. Paulinho foi diagnosticado (depois de anos de visita a consultórios, pela saúde precaria do menino) como portador de "Miocardiopatia restritiva". Patologia gravíssima, que só encontra solucão no transplante do coração.

Faz cinco meses que Paulinho coração Guerreiro (com esse nome foram feitas as campnhas nas redes sociais e até em programas de televisão em prol de sensibilizar a todos quanto a importância da doação de orgãos) vive num leito de UTI de um grande centro que trata do coração.
E aquela menina-moça de outrora, fica ali ao lado dele dia e noite. Quando a ouço, ou leio suas mensagens, meu coração se aperta pela dor imensa que sinto que ela vive, mas minha alma se regozija pela força, que sei, mora nela.
Uma Guerreira com todas as letras. Está sempre de pé, pronta para enfrentar o que a vida lhe reserva.

Há duas semanas atrás, a vida do Paulinho ficou por um fio, ele sofreu parada cardiaca, e mais uma vez foi dado como prioridade máxima na lista dos que esperam transplante de coração naquele hospital.
Quando falei com ela, após esse triste episódio, ela aguardava ansiosa enquanto o menino passava por um cateterismo. Havia dor, medo, claro que sim, afinal aquela mãe viu a vida do filho se esvaindo diante dos seus olhos. Mas, havia uma fé, e um amor tão imenso, dentro dela, capaz de superar aquele momento, e transformá-lo em esperança.

Ontem o novo coração chegou !!!
Veio pelas asas da generosidade, pelo passos do amor ao próximo em ação.
Veio infelizmente pela dor de uma família, pela perda de um ente querido, mas que por um ato de amor puro, deu ao Paulinho a oportunidade de seguir vivendo.

A cirurgia durou aproximadamente sete horas, daqui acompanhei junto com ela, de bem pertinho. Dei curso as lágrimas, e sei que misturei meu pranto ao dela. Mas, a fé imensa que ela cultiva, também é minha, e nunca estivemos tão unidas.
Com olhos marejados vibrei quando enfim ela me disse: "Acabou. E foi um sucesso. Mas, continue em prece, pois as 48 horas seguintes serão vitais"

Assim estou, confiante, pois o Pequeno Guerreiro, filho de uma Grande Guerreira, vai vencer mais essa delicada etapa. 
E todas as outras que virão. Que sabemos não serão fáceis, mas serão vencidas, para daqui a não importa quanto tempo seja preciso, de hospitalização (serão longos meses) ele voltar para casa, para uma vida nova.
E o mais importante, sempre cuidado por essa mulher amorosa, cheia de virtudes que Deus destinou para ser sua mãe.

Esse menino valente com apenas nove anos de vida, já enfrentou tantas tempestades, viu a morte de bem perto, viveu inumeras limitações, mas em contrapartida o Criador o presenteou com uma nova chance, e colocou rente a ele um Anjo encarnado na figura de mãe, que suaviza todo caminho por onde seus pés tenham que pisar, e quando esses não podem, ela o aconchega ao colo com a força desmesurada de um amor incondicional, quem sabe conquistado desde priscas eras.

Hoje o tum, tum, tum, do novo coração ecoa naquele quarto do centro de recuperação, e o da mãe responde em ritmo de gratidão a Deus, por ter permitido que seu filho tenha uma nova vida.

 
Lenapena
Enviado por Lenapena em 13/02/2016
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