Vinte Minutos
Terça-feira. 4h20min. Acordo. Teria eu mais vinte preciosos minutos de sono, ou, de cochilo. Os restos dos galos, frangos, alguns galináceos cantam, cacarejam nos quintais vizinhos. Eu teria mais vinte minutos preciosos para descansar minha carcaça. Meu garoto mais novo, acordo com o seu choro. Deveríamos entrar em acordo noite passada: não me acorde vinte minutos antes. Ainda com os olhos pregados saio da cama, no tato – as sandálias. Vou ao banheiro. No tato – a escova dental. Água na cara, quase desperto. Lembro que hoje terei novamente outros garotos, não são meus de fato, às vezes parecem ser. A preocupação, ou preocupações invadirão novamente minha mente. Não deveria ter. Não deveria ter tais preocupações? Às vezes as tenho – fato.
100 km. São aproximadamente cem quilômetros que me separam da minha dor de cabeça. Em alguns instantes estarei lá. Ela (minha dor de cabeça) já se encontra aqui. Aqueles galos não estarão lá. O choro do meu garoto mais novo não estará lá. E lá, não gastarei vinte minutos no banheiro.
O transporte chega. Pouco espaço. Mínimo espaço para as minhas longas pernas. Conversas longas. Assunto chato aos meus ouvidos. Silêncio irritante – insatisfação. Na mente uma prece cuidadosa: que seja uma viagem tranquila. Mente incrédula, medo constante. Ao iniciar a viagem vem um desejo de que apenas vinte minutos, no máximo, seja a duração dessa jornada – impossível. Os diálogos sobre a última rodada do campeonato de futebol, o monólogo de um senhor quase centenário (passageiro assíduo), e as “músicas” que tocam nesse transporte fazem parecer que esse percurso é de vinte horas.
Finalmente chegamos! Depois de uma hora e vinte minutos.
Meus garotos me aguardam. Alguns eu desejaria que não estivessem à minha espera. Espera inútil. Pegarei agora minhas ferramentas (a maioria trago em minha mente). Entrarei agora no meu local de trabalho. Meu ofício não levará apenas vinte minutos.