"Sem-Nome" Chama a Atenção em Brasília
Dezenas de carros estavam parados num dos sinais de trânsito do eixo Monumental, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Faltavam quinze minutos para as três da tarde, quando eu vi a cena. Em frente aos veículos, um homem ainda jovem falava alto, de modo desorientado, e ele levava algumas garrafas de pinga na mão. Suas roupas estavam rasgadas, os pés descalços. Nos gabinetes, logo ali ao lado, decisões políticas, com certeza, eram tomadas. O vai-vém dentro dos prédios ia a todo vapor. Mas, fora, o homem andava em ziguezague diante dos carros, bem ao lado dos prédios do Executivo, na capital federal. Ele, tido como louco, andando pra lá e pra cá, pertinho dos monumentos arquitetados pelo grande Oscar Niemeyer, próximo, inclusive, ao Ministério da Saúde.
O homem e o trânsito. O homem louco e as pessoas que passavam ali por perto (a maioria funcionários públicos), que dele começavam a rir, a associar maluquice a picadeiro de circo. Será que algum dia algumas pessoas vão ter misericórdia de alguém que não seja próximo a elas? De alguém que não seja parente delas? O louco (o palhaço para muitos) ia e vinha, desorientado... era um sem-nome, um sem-teto, um sem-destino. E, dentro dos gabinetes, os homens trabalhavam a todo vapor. "Trabalhavam, trabalhavam" com a mesma intensidade com que aquele homem gritava, falava alto, com a mesma rapidez com que apareceu e depois sumiu. Foi uma cena tão forte... e eu, por causa disso tudo, voltei para o meu local de trabalho, pensando nas desigualdades humanas.
Gláucia Ribeiro (06.07.2007)