Os Doces de Pelotas

Para meus doces amigos e amores...

Quando guri, em Pelotas, comia doces na Confeitaria Nogueira ou na Confeitaria Gaspar. Eram doces deliciosos de nozes, camafeus, trouxinhas, quindins, bombas recheadas, que eu adorava quando traziam para casa. Na primeira cidade que visitei, na primeira vez que saí de Pelotas, que era a cidade de Rio Grande, havia uma Confeitaria Sol-de-Ouro que disputava a primazia com os doces de Pelotas. Eu, como bom pelotense, dizia que os doces de Pelotas eram melhores. Mais tarde, a confeitaria de Rio Grande fechou e sobraram os doces de Pelotas.

Tempos depois, já formado, morei em Porto Alegre. De vez em quando procurava doces por lá e só encontrava umas massas pesadas e imitações açucaradas dos doces que eu conhecia. Atribuí isso ao fato de Porto Alegre ser uma cidade grande demais e eu não conhecer os lugares onde estavam os bons doces.

Logo depois fui morar em Santa Maria. Morei numa galeria no Centro, logo ao lado da Confeitaria Copacabana. Na primeira vez que descemos do apartamento para comer doces, tivemos uma decepção profunda: os doces eram massas cobertas com geléias ou suspeitas gelatinas. Nada de camafeus, nada de trouxinhas. As bombas recheadas não eram nem sombra das que eu conhecia, com recheio de gosto excessivo de essência de baunilha.

Com o tempo, descobri que eu teria morado numa cidade que tinha os melhores doces do país e eu não sabia! Agora existe a Festa Nacional do Doce e pessoas de todos os lugares se deslocam para a cidade para comer os doces da minha infância.

Meu amigo Rafael, filho do Décio e da Neusinha, costumava deitar na cama com a mãe e indagar sobre o aparelho sexual dela. Queria saber dos detalhes de funcionamento. Quando ele contava o que havia aprendido com a mãe para os amiguinhos, eles ficavam surpresos em saber que Rafael tinha aquela intimidade e amizade com a mãe dele. Rafael descobriu que tinha pais únicos, por comparação. Rafael foi ser biólogo (é claro) e tem uma carreira promissora.

Emílio e Júlia, meus sobrinhos, descobrem, por comparação, que são raros os pais tão amigos e parceiros como os deles. Meus cunhados são daqueles pais amigos sem serem controladores, que não se utilizam da amizade para controlar os filhos. São amigos de verdade, carinhosos, afetivos e atentos na medida certa. Meus sobrinhos são pessoas íntegras e responsáveis.

Quantas vezes estamos em frente aos doces de Pelotas, únicos no País, e pensamos que em frente a doces normais? Com quantas pessoas únicas convivemos e não percebemos, por efeito da rotina diária?

Muitas vezes precisamos conhecer doces ruins, falsos e malfeitos para valorizar os doces de casa.

Eu, que já tive a minha dose de doces vagabundos, sei que tenho amigos e amores raros, aprendi a percebê-los com os doces de Pelotas.

A Cleuza é um doce de Pelotas... Mas que eu não reparto com ninguém.