UM CORPO DE MULHER (Crônica)

UM CORPO DE MULHER

(Crônica de Carlos Freitas)

Véspera de Natal. As lojas da avenida principal do bairro fervilham. Transpiram pessoas por todos os poros. Mais parecem nichos de formigas em pleno e frenético trabalho de abastecimento dos seus celeiros. – Por acaso, as formigas também não podem festejar o Natal? – Por que não? – Afinal, elas fazem parte do mundo criado por Deus Pai e, das suas celebrações!

Bem, voltando à nossa história... As pessoas que saem dessas lojas inundam a calçada, provocando um transito caótico, infernal, bem como, um irracional congestionamento humano. Por mais que eu desviasse de alguém, inexoravelmente, acabava num encontrão com outrem. O caos estava ali materializado e instalado! Cada um com suas prioridades, correndo em busca das soluções que lhes proporcionariam os arranjos finais, como presentes, decorações e alimentos para a grande Ceia da noite sagrada de Natal, que se aproximava celeremente.

Então, todos irmanados num só espírito (ao menos uma vez por ano), farão uma prece de fé em homenagem ao nascimento do menino Deus. Pedirão também a proteção para os incertos dias vindouros, e que desperte de forma definitiva no coração de cada homem, o amor ao próximo, homem esse, que se vê cada vez mais envolvido pelo materialismo, egoísmo, indiferença, irracionalidade, violência e, ausência de sentimentos fraternais e amor.

Bem – perdido em meio àquela balbúrdia e, mais ainda pelas preocupações que giravam a mil, na minha atordoada cabeça, tento continuar, aos atropelos, minha caminhada pela calçada, quando repentinamente, passando à frente de uma daquelas lojas “formigueiros”, vejo o corpo de uma jovem e elegante mulher ser arremessado para fora. Numa reação de puro reflexo, consigo segurá-lo antes que estatelar-se no chão.

Percebo que há algo de errado. Sinto em meus braços um corpo frio e enrijecido, um rosto pálido onde percebo a ausência absoluta de reações ou sinais vitais... Era um belíssimo espécime de uma jovem e elegante mulher, vestida com esmero...

Todavia, refazendo-me do estado de torpor, para minha frustração e surpresa, descubro que aquele corpo o qual, ainda abraçava, não passava de um mero e inanimado manequim de vitrine, postado à porta da loja, e, que fora vítima do encontrão de um daqueles apressados, estabanados e tresloucados anônimos clientes, ao sair da loja.

Delirante, e rindo muito de mim mesmo, além de um beijo, desejei à manequim, ainda presa em meus braços... Um Feliz Natal, como também... Um Próspero Ano Novo!

Carlos Freitas
Enviado por Carlos Freitas em 11/02/2016
Reeditado em 23/01/2020
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