Não chute o cachorro
Há pessoas que deploram a inveja. Mais que isso, dela sentem um pavor mórbido. Como se ela pudesse causar doença – e pode mesmo, como tudo de que se tenha um pavor mórbido. Embora se esqueçam de que ela mesma pode ser uma doença.
A inveja pode ser algo extremamente desejável, se dermos crédito à língua do povo quando diz que “não se chuta cachorro morto”. Quem é invejado pode ter a certeza de que está fazendo algo de bom, que mereceu aplausos, ainda que discretos, ou que foi ou pode ser reconhecido um dia.
Claro que o sentimento invejoso, com o seu peçonhento licor, dá margem a intrigas, difamações, posicionamentos adversos sem maior fundamentação e ensandecidas investidas verbais, e até físicas, contra aqueles cujos dotes não podem ser compartilhados por quem os inveja. Ou teme. Ou treme de inveja.
O que pode dar medo. Mas se esse medo é considerado sob um ponto de vista um pouquinho egoísta ou vaidoso, veremos até que faz bem. Pois quem é invejado está quase sempre sendo lembrado. Ainda que nele ou nela não se fale. Já que quando desaparecermos, seremos inexoravelmente esquecidos.
Maricá, 11/02/2016