MITO E FILOSOFIA
MITO = uma representação fantasiosa exprimindo uma verdade. Representação de personagens inexistentes ou de eventos que nunca aconteceram. Sobre o valor do mito, que desempenha um papel fundamental em todas as culturas tradicionais e também na primeira filosofia grega, dão-se duas interpretações contrastantes, uma positiva outra negativa. Para a negativa, o mito é pura criação de uma humanidade ingênua, infantil e imatura, privada de categorias lógicas, que de forma mais ou menos instintivas falsifica a realidade e a história. Para a segunda, a positiva, mitos são a metafísica dos povos antigos. Quem sustenta esta tese julga poder distinguir dois tipos de metafísica: mito-metafísico, que elabora uma explicação da realidade com a fantasia e depois a exprime em termos fantásticos, místicos, e o lógico-metafísica, que elabora uma explicação da realidade com a razão, e, portanto, formula sua explicação através de conceitos.
A mente humana é naturalmente inquiridora: quer conhecer as razões das coisas. Basta uma criança fazendo perguntas aos pais. Mas às mesmas perguntas podem ser dadas diversas respostas: respostas míticas, científicas, filosóficas, religiosas. A mítica contenta e alimenta a fantasia, a científica contenta a razão, mas de modo parcial, a filosófica contenta o pensamento e de modo completo, pois diz que não sabe também, quando de fato não sabe e a religiosa contenta a fé.
Para os antigos, tudo era explicado pelo mito. Alguém perguntava por que troveja? Outro respondia: Porque Júpiter está encolerizado. Para nós, parecem respostas ingênuas. Mas historicamente elas teem uma grande importância, pois representam o esforço da humanidade para explicar as coisas e suas causas. Sob o véu da fantasia, há nessas respostas uma autêntica procura das causas primeiras do mundo.
O mito é o primeiro degrau no processo de compreensão dos sentimentos religiosos mais profundos do ser humano, é o protótipo da Teologia. Ele é também aquilo que assinala e garante o pertencer a um grupo social e não a outro; o pertencer a este ou àquele grupo depende dos mitos particulares que alguém segue e cultiva.
Podemos dizer que o mito é uma representação fantasiosa, espontaneamente delineada pelo mecanismo mental do ser humano, a fim de dar uma interpretação e uma explicação aos fenômenos da natureza e da vida.
LOGOS = O termo é usado tanto para designar a atividade com que se toma conhecimento de alguma coisa, de algum objeto, como à informação adquirida através da tal atividade. No ser humano distinguem-se várias formas de conhecimento: o sensitivo, o imaginativo e o intelectivo. O intelectivo pode novamente dividir-se em ordinário, científico, filosófico e religioso.
Como vimos, para o problema da existência de um princípio unitário para todas as coisas não havia uma conclusão lógica, tudo era encarado a partir do mito. E ao longo de tempo, a mitologia foi dando lugar a um pensamento mais correto sobre as coisas. Daí começa a nascer na filosofia, nas colônias gregas do Oriente e do Ocidente, mais propriamente na Jônia e na Magna Grécia. Cerca de 620 anos aC, em Mileto, nasceu Tales, o pai da filosofia grega Ocidental. Matemático e astrônomo, foi considerado um dos sete sábios da antiguidade, foi o primeiro pensador que se pôs expressa e sistematicamente a pergunta: “Qual é a causa última, o princípio supremo de todas as coisas?” Para ele, o princípio supremo e causa última de todas as coisas era a água, o ar e o fogo.
Assim, começa a desenrolar o pensamento filosófico, começa a crescer o conhecimento racional sobre as coisas. E podemos dizer que o conhecimento humano se desenvolveu em três fases diferentes, das quais a primeira seria religiosa, a segunda, filosófica e a terceira, científica. É também muito difundida a opinião segundo a qual a fase religiosa se identifica com a fase mítica da humanidade. Mas também observamos que de várias partes e com razão, que a tendência a dar uma estruturação mítica ao pensamento não é exclusividade da religião, mas acompanha todas as outras expressões do ser humano e todas as dimensões do seu agir.
É isso aí.
Acácio Nunes