Obnubilação
Quanto mede a alma dos filósofos? Qual é o tamanho do espírito dos trabalhadores? Razões de ser de diferentes seres. Cogito, ergo sum. A multidão padece aos pés de Cartesius. Chamem os filhos de Levi, os idólatras cultuam a bezerra de ouro.Trabalho aos trabalhadores, arte aos burgueses.
Minha filosofia, que é só minha, não me arranca do sofá, apenas me dilacera. Tive pena dos outros, senti medo dos outros, demonstrei amor aos outros e o que lhes proporcionei? Nada.
Os homens livres, a cada dia, tornam-se menos donos si. A televisão consome, lentamente, todo nossa psique. Sopro do Olimpo que se perdeu nos destroços da história. Os olhos oblíquos da cigana dissimulada vêem o futuro em vossas mãos.
Drummond nos deu a rosa, a mais bela de todas. Sangue e leite na reluzente aurora. Afiemos nossas espadas, aço gélido entrando em corpo borbulhante. Tu és filho da propriedade privada, vos sois o ente que abita o ventre do direito positivo. Andamos desamparados pelo vale das sombras.
Não repreenda o que és, por si, irreprimível, levanta-te, anda-te sobre seus próprios pés. Não busque sacros laços ilusórios, assuma o sofrimento como teu e, ao possuí-lo, o devore. Frua seu amargo gosto, somente, por assim ser, nascerá a flor que nos libertará, sou criador e criatura, o espírito inquieto dos loucos, das putas e das crianças. Sou eu quem crio e sou eu quem enterro.
Nasci preso a minha classe e algumas roupas velhas, as palavras não nascem amarradas, elas estão soltas e pairam no ar. Mas a boca que as pronúncia, ainda, firma seus pés na terra. Lázaro levantá-te e anda. Os lazarentos se multiplicam exponencialmente.
Chegada é a hora, tirem suas mortalhas e preparem-se para o reluzente gozo acre . Sangue de cordeiro não saciará o impeto pela negação de tudo.
Quem começou tudo isso? Quem sera o coveiro de tal sofrimento? Que mãos tocaram o réquiem final? A voz ecoa em nosso vazio: homem, homem.....mem. Doses de angústia me alimentam, me preparam, me revoltam e me consolam. O inseto, em pais bloqueado, cavou e cavou sem saber que quanto mais cavava maior era a quantidade de areia que depositava sobre si, mas o que importa é que ele oxigenou a terra e não temeu volvê-la. Colocou-se a cavar sem alarde, inseto que nega o estático, o movimento é sua vida, sua dor és sua glicose. Avante querido inseto.
Pelas ruas, corpos vazios caminham ao seu labor diário, a mão invisível os macera e os põe sob postulados metafísicos. O dom de ser nada é nossa predisposição natural. Sou nada, mas deveria ser tudo. Pinte Jesus de amarelo, o gênio nocauteou os dogmas cristãos. Corte epistemológico. A ferida aberta gera erupções de pus, eu lhe enfio o dedo, mais profundo que posso, arrancando toda sua podridão e a consumo. Doce és o excremento da humanidade. Me universalizo, encontro em ti o meu não. Nem por isso não sou você, somos todos a mesma carne e a mesma dor. Mulher não serás mais a auxiliadora, és dona de si. Trabalhadores recuperem vossos trabalhos, são suas mãos que transformam o nada em tudo.
Não lhes ofereço nada, a não ser a dor de um homem que mergulhou no doce lodo fétido da humanidade