NA QUARENTA

Depois de longo período sem dirigir, tenho me divertido, com a cidade vazia, diariamente saio de casa e vou no sítio, tomo caminhos diferentes, um pouco por paranoia, daquelas que se aprende em filmes de espionagem.

Aproveito para exercitar a "quarenta", que nada mais é o patrulhamento motorizado, que por coincidência tem a velocidade usual de 40 km por hora. Claro que faço somente nos eixos de visibilidade, tipo operação presença, não entro nas ruelas, não mando ninguém à parede, nem posto-me em pontos-bases.

Quando faço as conversões girando lentamente a direção a visão se estende por 270 graus.

Mesmo vazia a cidade guarda muitos barbados desocupados pelas esquinas, só isto que consigo ver, perdi o cacoete, mas os carros, ah os carros, a maioria de películas irregulares, são perceptíveis os raros de polícia, muito mais de autoridades ou pretensas, os de puladores de muros e muitos, muitos suspeitos.

Para muitos os semáforos e nada dá no mesmo, e os motociclistas? - calçadas viram pistas, semáforos concedem salvo-condutos aos apressados.

Se estivéssemos nos anos oitenta eu estaria rouco de tanto gritar:

- Na parede! Desce, desce!

Claro que poderia optar para agir depois do leite derramado!