MEU GALO

MEU GALO (Paulo Carneiro)

Fui ao galo (clube carnavalesco), e voltei com um galo na cabeça - Que festa arretada - Logo que cheguei no local, um cara perto de mim levou como recepção, uma bofetada daquelas cuja lembrança faz a vista encher-se de estrelas banhadas de lágrimas e a cueca toda borrada. --- Mas quem gosta do galo enfrenta qualquer parada. - Até canta o que não sabe fazendo mímica labial de letra falsa, só pra justificar sua alegria de cantar durante a festa de que participa , e assim, vai emitindo qualquer fonema fracionado ou não, a rima não interessa, é carnaval e tudo vale. Pular é o rito principal, e feito um cabrito aos gritos, vai ocupando os espaços possíveis, sonhando igual ao Morfeu, em meio aos apertos e desacertos e sons de apitos, ironias, fantasias e serpentinas, aprumam os passos no compasso do frevo, interstício das dores da vida, clarins de Momo em exercício total, é carnaval. --- Nada deve ser ruim, tudo é igual, é carnaval! No meio da ponte do donatário, o galo imponente, com seu estandarte na frente, vendo do alto todo panorama, calor de gente formigando, os blocos vão desfilando num frenesi sem igual, é carnaval, a cura do mal, a busca do prazer - Nos pulos enfeitados, nos gole-goles e empurra-empurras do cortejo, muitos desejos, em meio à carnes suadas, a sensação do prazer, volúpias de beijos. Momento da volta triunfal, foi sem querer, bati com a cabeça nos chifres de uma fantasia - Em troca pela ousadia carnavalesca, misturada à agonia da chifrada, ganhei uma singela marca registrada, um enorme galo na cabeça. Não faz mal ! É carnaval, tudo normal, nada a contestar, gostei até da chifrada, durante o carnaval quase tudo é possível, até um chifre invisível é capaz de condecorar fantasias de carnaval na cabeça dos foliões em qualquer lugar.

Paullo Carneiro
Enviado por Paullo Carneiro em 09/02/2016
Reeditado em 31/01/2017
Código do texto: T5538083
Classificação de conteúdo: seguro