Todos fechamos os olhos. O mundo é dos malditos

Certa vez combinei com um amigo para irmos jogar vídeo game.

Eu não sabia chegar em sua casa e nem ele á minha, portanto escolhemos nossa escola como ponto de encontro.

Estudamos em um bairro operário, sem riqueza alguma e de aparência lastimável, nossa escola não era de nenhum agrado também.

Cheguei cedo e recostei as costas no portão de concreto, esperando pela chegada de meu amigo.

A grama estava alta demais, ninguém se importava em capinar a área e era provável que demoraria até alguém da prefeitura surgir com a intenção de dar um jeito naquele tapete verdejante. No meio das altas e verdes folhas havia alguém, deitado, não foi preciso muito esforço para perceber que era alguém morto, não um alguém qualquer, um mendigo.

Eu não me surpreendia mais com a cena, já que acontecia diversas vezes no mês e todas as vezes era a mesma coisa e eu sempre prestava muita atenção, não interessa o porquê.

É engraçado, se fosse uma pessoa bem vestida, no mínimo limpa, alguém já teria parado defronte ao cadáver e ligado para um hospital ou para a polícia, mas, como era um relés mendigo maltrapilho jogado inconsciente e sem vida no chão, ninguém dava a mínima.

As pessoas vinham e iam e ninguém olhava-o diretamente. Ao perceberem sua presença, viravam a cara e passavam reto, sem excessão.

Jamais entenderei como a humanidade pode ser tão fria em relação á vida de um homem com base em sua aparência, emprego (ou ausência deste) e dinheiro.

Mendigos não são pessoas quaisquer, são pessoas admiráveis. Vivem como a escória da sociedade, a poeira dos sapatos, um simples guardanapo sujo em meio ao entulho. E mesmo assim aguentam bigornas em suas costas, apenas com o intuito de sobreviver, de ver o dia seguinte. Quando um morre, certamente fora uma morte mais honrada que a de qualquer maldito engravatado que não conhece sequer o sentimento da fome.

E se aquele homem possuísse filhos em algum canto do país, fosse uma pessoa simples que sairá de um lugar em busca de vida melhor e simplesmente não tivera sorte? Ninguém pensava nisso?

Meu amigo chegou e fomos embora sem nada fazer.

Ora, se ninguém fizera até aquele momento, por que seríamos nós a fazer? Deixe como está. No fim somos garotos, pequenos homens. O mundo pertence aos malditos e eu nunca fui diferente de ninguém. Ninguém é diferente.

Barb Fratis
Enviado por Barb Fratis em 09/02/2016
Reeditado em 11/02/2016
Código do texto: T5538081
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