VICENTE FARIA
Morava na fazenda Barra Alegre, entre a Cachoeira do Jurumirim e Quenta Sol. Veio de Mariana para Calambau, onde adquiriu as terras
de sua fazenda de um descendente de italianos, da família Milioni.
O certo é que o Vicente Faria levava uma vida tranqüila com a sua esposa dona Júlia que era a única costureira da região. Fazia calça, camisa, paletó,boné para os homens. Para as mulheres faziam os vestidos. Mesmo estando “apertada de costura” ainda sobrava tempo para ela fazer uns deliciosos queijos.
Muitas vezes eu fui até lá , a pedido de minha mãe, para comprá-los.
O Vicente Faria também, na época das jabuticabas, colocava essas frutas em dois balaios de taquara que iam penduradas na cangalha de um cavalo. Em Calambau elas eram vendidas medidas em uma lata de um litro. Vendia também a sua pequena produção de rapaduras, que eram feitas com muito capricho.
As suas citações eram famosas na região. Quando alguém fazia alguma coisa que o magoava, ele sempre dizia: “Não tem nada não, quero ver no frigir dos ovos a gordura que sobra”.
Foi um dos primeiros, na região, a construir a sua usina elétrica, aproveitando uma pequena queda do córrego Jurumirim. Assim sendo foi um dos primeiros, na zona rural, a possuir um rádio. Quando tinha meus doze anos e já sabendo dá existência dos clubes de futebol do Rio e de Minas, passei a torcer pelo Atlético Mineiro e o Fluminense. De vez em quando ia à casa do Vicente Faria ouvir os jogos destes times.Era uma luta para conseguir que o Vicente ligasse o rádio. Primeiro ele tinha que ir até a pequena represa desviar a água do moinho para a usina, o que levava uns quinze minutos.Algumas vezes os jogos ainda não haviam terminados, e ele vinha com o aviso: -Vou ter que desligar a luz, senão não terei como ligar a usina à noite, por falta d’água. A partir daí o negócio era ir embora, sem antes tomar um caneco de café com queijo, que a Dona Júlia me servia e também a alguns de meus companheiros, que me acompanhavam de vez em quando.
Adorava cachorros. Quando morria alguns, eram sepultados em um local próprio.
Ele e sua esposa não perdiam as missas dominicais. Ele montado em um cavalo e ela montado em outro, utilizando um silhão (sela própria para mulheres).
Sempre repetia para nós, que no terreno de meu pai José Carneiro, no local onde os bandeirantes tiraram ouro, existia uma panela cheia daquele metal, enterrada por um escravo que perdeu o local
onde a escondeu.
O Vicente Faria gabava-se de nunca ter caído de um cavalo ou burro, até que em um belo dia este seu discurso caiu por terra. Aconteceu que ele resolveu comprar um burro, que lhe serviria para fazer as suas viagens e também transportar a produção da fazenda. Em um domingo em Calambau, ele ficou sabendo que o dono da fazenda Bananeiras queria vender um burro, que era de sela e carga. O informante disse ao Vicente que este burro foi adquirido da fazenda São Geraldo, em Porto Firme. No domingo seguinte o encarregado da Fazenda Bananeiras, que ficou sabendo do interesse do Vicente Faria, trouxe o burro até Calambau. O Vicente viu, gostou e concretizou a compra, pois foi informado que o burro de nome Rochedo trabalhou por muito tempo na fazenda São Geraldo. Burro desta fazenda e com o nome de Rochedo? Já conhecemos a sua história...
Neste domingo o Rochedo foi levado para a fazenda Barra Alegre, puxado pelo cabresto pelo Vicente Faria montado em seu cavalo. No domingo seguinte, dia de ir à missa em Calambau , o Rochedo foi arreado e ia fazer a sua primeira viagem com o novo dono. A dona Júlia foi montada em outro cavalo. O Rochedo era esperto e muito bom de montaria, o que alegrou o Vicente. Após a missa e depois de terem feito as suas compras, os dois voltaram para casa. Acontece que quando passavam pela Cachoeira do Jurumirim, mais precisamente em frente à casa do Sr. José de Lima Ramalho e estando este na janela, o Vicente Faria foi cumprimentá-lo dizendo:-Boa tarde Sô Zé de Lima! Ao ouvir este nome o burro Rochedo saiu em disparada e o coitado do Sô Vicente foi arremessado em uma moita de capim gordura. Amparado pelo Zé de Lima, ele levantou-se e disse:- Amanhã mesmo irei dispor deste maldito burro pois isto nunca aconteceu comigo. Pois é, o burro Rochedo, que em Porto Firme não podia ouvir o nome do Coletor Zé de Lima, ao ouvir este nome “deu no pé”, deixando o Vicente Faria “na mão” e no chão...
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Murilo Vidigal Carneiro
Calambau /fevereiro/2016